#ThankGodIt’sMonday, #RiseandGrind, #hustle. Vira e mexe, essas e outras hashtags “motivacionais” aparecem nos feeds de Instagram de empreendedores, empresários e freelancers. Esse apego pelo excesso de trabalho parece ter se tornado uma constante entre millennials. E é isso o que a jornalista Erin Griffith, especializada em startups e capital de risco, questiona em artigo recente para o New York Times.
Griffith parte de um acontecimento, a priori, corriqueiro para iniciar suas argumentações. Em setembro de 2018, um usuário do Twitter postou uma foto de uma sala da WeWork, uma empresa global de coworking, na qual o recipiente com água saborizada contém a frase “não pare quando se cansar, pare quando terminar” entalhada nos pepinos.
https://twitter.com/StevieBuckley/status/1040185357948608513
“Bem-vindo à cultura da pressa (hustle culture)”, escreve a jornalista. “Ela é obcecada com esforço, implacavelmente positiva, desprovida de humor, e – uma vez percebida – impossível de escapar”. Para ela, isso gera uma glorificação da ambição, que deixa de ser um meio para se alcançar um objetivo e passa a ser um estilo de vida.
Na página “Sobre” da produtora de conteúdo One37pm, por exemplo, está escrito: “O estado atual do empreendedorismo é maior que a carreira. É ambição, coragem, pressa. É uma performance ao vivo que ilumina a sua criatividade… uma sessão de transpiração que envia suas endorfinas […]”.
Ela destaca, ainda, uma sequência de tweets publicada por Elon Musk em novembro de 2018, aonde, para divulgar oportunidades de emprego de suas empresas, afirma: “Há lugares mais fáceis de trabalhar, mas ninguém mudou o mundo em 40 horas por semana. […] Mas, se você ama o que faz, (na maioria das vezes) não parece trabalho”.
There are way easier places to work, but nobody ever changed the world on 40 hours a week
— Elon Musk (@elonmusk) November 26, 2018
A jornalista questiona que, por esse ponto de vista, parar de se trabalhar não é uma opção e todas as demais atividades realizadas por uma pessoa, como se exercitar ou ir a um show, só são válidas se tiverem o propósito de inspirá-la no trabalho. Eventualmente, ela define esse comportamento como “workaholismo de performance”.
Os outros lados da moeda
Griffith comenta que o fato de nunca ter agradecido a chegada de uma segunda-feira poderia torna-la uma “traidora para sua geração”, mas são argumentos para mostrar os fortes traços de fraude dessa mentalidade são nada menos que sólidos. Para ela, “[…] convencer uma geração de trabalhadores a trabalhar duro é conveniente para quem está no topo”.
Seu ponto de vista é corroborado pela fala do empresário David Heinemeier Hansson, co-fundador do software de planejamento Basecamp. “A grande maioria das pessoas que batem os tambores da hustlemania não são as que estão, de fato, trabalhando. São os gerentes, financistas e proprietários. […] É sombrio e explorador”, afirmou em entrevista.
O pesquisador Aidan Harper, criador da campanha Demand a 4 Day Week na Europa, define o excesso de trabalho como algo desumanizante e tóxico. “Isso cria a suposição de que o único valor que temos como seres humanos é nossa capacidade de produtividade – nossa habilidade de trabalhar em vez da nossa humanidade”, disse à jornalista.
No final das contas, Erin Griffith conclui que essa cultura do trabalho excessivo e da pressa em ser bem-sucedido chegou a um ponto curioso: “A dura realidade de 2019 é que implorar a um bilionário por um emprego via Twitter não é considerado embaraçoso, mas uma maneira perfeitamente plausível de progredir. […] Se estamos condenados a trabalhar até morremos, nada nos impede de fingir que gostamos disso. Até mesmo nas segundas-feiras”, finaliza.
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