A ascensão e a queda de Marcela (no BBB e no Instagram)

Quando o BBB 20 começou, em meados de janeiro, muitos de nós fomos instigados a assistir por causa da dinâmica inusitada apresentada por Boninho, Tiago Leifert e cia. para esta edição comemorativa do programa. A ideia de juntar anônimos e influencers na “casa mais vigiada do Brasil” não só atiçou as expectativas dos fãs do reality como alavancou o fluxo de seguidores dos convidados pra frente da TV.

E o novo formato também se mostrou interessante para quem trabalha com conteúdo, visto que estratégias de marketing elaboradíssimas começaram a ganhar a internet. Manu Gavassi, Bianca Andrade e Pyong Lee — que já tinham audiências parrudas no Twitter, Instagram e YouTube — deixaram vídeos, clipes musicais, ensaios fotográficos de looks usados na casa, posts patrocinados, anúncio de turnê e narrativas inteiras prontas aqui fora.

Mas foi o posicionamento de marca de uma das participantes — até então — anônimas que mais me chamou a atenção: o da médica Marcela McGowan. Ao que me parece, ela foi a única entre os desconhecidos a entrar no programa com algum planejamento prévio mais estratégico, tanto para o jogo quanto para as redes sociais.

No momento de sua entrada, ela afirmou ter (em uma conversa dentro da casa) 26 mil seguidores no Instagram. Isso indica que a sister já tinha certa influência na rede, enquadrando-se na categoria dos microinfluenciadores (aqueles que têm entre 10 mil e 100 mil seguidores).

 
 
 
 
 
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O fato de já ter uma considerável audiência explica o perfil de Marcela já contar com uma identidade visual definida, slogan próprio com hashtag (#DraUnicornio) e algumas séries de conteúdo. Analisando o perfil, nota-se que essa guinada é recente, iniciada no segundo semestre do ano passado (possivelmente em meio ao processo de seleção do BBB), e é justificada pelo lançamento de seu curso online “O Prazer é Todo Meu”, voltado para sexualidade feminina — uma de suas áreas de especialização.

Até esse ponto, os posts eram de cunho mais pessoal (apesar de ter fotos muito bem produzidas), porém, já com algumas reflexões sobre a bandeira que impulsionou sua ascensão meteórica nas primeiras semanas e, agora, catalisa a queda de sua popularidade no programa e, também, nas redes: o feminismo.

[Antes de continuar, quero destacar que não é meu papel, e nem a intenção do texto, julgar a conduta da Marcela ou de qualquer outro participante do BBB. Muitas coisas aconteceram por lá — inclusive, casos de polícia —, mas o objetivo aqui não é “cancelar” ninguém (essa tarefa deixo pro pessoal do Twitter e, em algumas situações, pra justiça). O BBB tem sido a alienação que tem salvado a sanidade de muita gente nesse início de ano kamikaze (oi, coronavírus e dólar a R$ 5,00). Então, acho que vale tentar interpretar alguns comportamentos e tirar algum conhecimento ou aprendizado dessa loucura toda 😉]

O famigerado teste de fidelidade

Marcela entrou na casa com um personagem montado. Não digo isso como algo ruim, pois ela sabia muito bem quais de suas características e habilidades queria mostrar no programa e projetar em suas redes. Já em sua chamada, antes do reality começar, rotulou-se como feminista e destacou seus focos profissionais, deixando claro que não hesitaria em tretar com os “héteros top”. Ela também se apresentou ao público como bissexual.

 
 
 
 
 
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Logo na primeira semana, já assumiu alguma notoriedade, sendo responsável — junto com suas aliadas Gizelly e Thelma — pela ida de Lucas Chumbo (primeiro eliminado) ao paredão. Na semana seguinte, ao buscar (novamente com Gizelly) outros aliados para o jogo, se viu presenteada pelos “machos” da casa com uma narrativa que parece ter sido desenhada a mão para sua estratégia: o teste de fidelidade com as “famosas comprometidas”.

Graças a esta tática falida, a médica foi acolhida pelo público e se tornou a participante anônima de BBB a chegar em menos tempo à marca de 1 milhão de seguidores. Feito alcançado com 13 dias de programa. No dia seguinte, ela ultrapassou a contagem dos 2 milhões. E continuou crescendo, passando dos 4 milhões em outras poucas semanas.

O cavalo-de-troia da Casa de Vidro

Como era de se esperar, o plano dos homens gerou conflitos. Mas, devido às acusações atribuídas ao ginasta Petrix (segundo eliminado), a saída de Hadson (participante responsabilizado pelo teste) acabou sendo adiada. Assim, o público encontrou uma maneira de avisar as mulheres que a estratégia machista realmente existiu: enviar as informações para dentro da casa com a ajuda dos participantes na Casa de Vidro.

Daniel e Ivy entraram, passaram a resenha da eliminação de Petrix — entre outras coisas — e o plano maligno foi desmascarado. O que o público não esperava — e Marcela e sua equipe de marketing também não — era que ali seria o ponto de virada da popularidade da “fada sensata” (expressão que, inclusive, tem que acabar!). Isso porque as informações de fora começaram o desfecho de narrativa mais longo (creio eu) da história do programa.

O grupo de meninas que acreditaram na história do teste de fidelidade desde o começo se aliou a Pyong e aos mensageiros recém-chegados para fazer uma fila de eliminação dos “machos escrotos”; uma jornada de ao menos um mês de programa, considerando que ainda faltavam quatro deles para darem adeus ao jogo.

Ironicamente, foi nesse momento que Marcela atingiu o ápice de seu favoritismo. Com a história devidamente corroborada, o caminho estava aberto para que ela fosse a “cabeça” da pauta feminista. Suas falas começaram a ser divulgadas à exaustão por sua crescente torcida, e logo foram reproduzidas por influenciadores, artistas e até mesmo políticos aqui no mundo real. Não demorou para ela ser considerada a campeã antecipada da edição.

Na web, sua equipe cuidava de enaltecer suas atitudes na casa, levantar hashtags no Twitter, interagir com o público, comemorar as metas de seguidores, vender cópias do curso online e até mesmo agendar a presença dela em eventos marcados para depois que o programa terminasse. Isso, vale destacar, sempre utilizando conteúdo previamente planejado e produzido, intercalado às oportunidades de postagens engatilhadas pelo roteiro do BBB.

Só que o tombo veio para Marcela — e mais rápido do que todo mundo esperava. Não precisa ser um(a) grande contador(a) de histórias pra perceber que a linha de raciocínio do grupão ia dar errado: narrativa nenhuma — considerando a estrutura de um reality como o BBB — dura tanto tempo para ser resolvida após o clímax. O conflito foi desvendado, os vilões foram desmascarados e, mesmo que nem todos tivessem “pagado pelo crime” ainda, os produtores precisavam manter o público entretido. Ou seja, novas narrativas surgiram e/ou foram criadas.

De fada a falsa sensata

Depois de descobrir que já havia conquistado mais de 2 milhões de seguidores no Instagram e que o público confiava em sua versão dos fatos, a participante engatou um romance com o mesmo Daniel que lhe trouxe as boas novas. O relacionamento não agradou por dois motivos: muita gente esperava que Marcela e Gizelly formassem um casal (#Gicela) e, além disso, o novo habitante da “nave louca” acabou decepcionando o público em vários outros aspectos.

Segura de que é adorada aqui fora, acreditando na estratégia — convenhamos, super batida — de “formar casal” e crente de que não vai para o paredão tão cedo pois os demais competidores a consideram forte no jogo, a médica mudou de postura e acabou trocando o repertório didático que colocou o feminismo no centro das atenções no início do programa por outro que não foi bem recebido por quem assiste.

“No momento em que termino esse texto, ela já perdeu quase um milhão dos seguidores…”

Nas últimas semanas, sua popularidade tem caído quase que com a mesma força e velocidade que a levaram ao topo no passado. E as acusações sobre sua conduta ficaram ainda mais sérias: comentários racistas e gordofóbicos direcionados a Babu Santana foram atribuídos a ela, assim como falar mal de aliados pelas costas e não repreender as infrações que Daniel comete diariamente no jogo.

A última gota foi na semana passada, quando contradisse toda sua jornada ao “passar pano” para uma fala machista do namorado e, ainda, colocar em xeque os sentimentos de outra mulher, a Flayslane, que se sentiu ofendida pela frase. Não é de hoje que Marcela é chamada de “feminista de Taubaté”, “militante de telão” e hipócrita nas redes sociais. No momento em que termino esse texto, ela já perdeu quase um milhão dos seguidores que conquistou e amarga as últimas posições em todas as enquetes que tentam estimar o pódio do BBB 20.

Finalmente, os refrescos!

Ok, agora que a fofoca está mais ou menos explicada (rs), o que dá pra aprender com tudo isso? A meu ver, Marcela teve uma grande sacada ao entrar no BBB com uma estratégia de marketing e isso deve ser reconhecido. Vale lembrar, inclusive, que ela não sabia que estaria competindo com pessoas famosas. Isso mostra que ela já estava pensando além da notoriedade passageira do programa. Hoje em dia, o BBB é jogado também na internet e é importante planejar estrategicamente como conquistar esse espaço e se manter nele depois que o reality acaba.

Mas isso também tem seu lado negativo: os participantes não estão mais à mercê apenas da edição e do público seleto que acompanhava o pay per view anos atrás. Com as redes e o próprio Globoplay (serviço de streaming da emissora que é mais barato e acessível que TV por assinatura), há pessoas que ficam acompanhando milimetricamente tudo o que acontece na casa.

Em tempos de ostentação da lacração, todas (sem exagero, TODAS) as falas e atitudes dos participantes — positivas e negativas — são inflamadas na web e viram munição na guerra entre as torcidas. Em sete semanas, todos eles já foram “cancelados” pelo menos uma vez. Se não me engano, a única exceção é a Thelma.

Enquanto Marcela comprou a ideia de que venceu o programa na segunda semana, outras histórias foram criadas e exploradas pelos demais participantes. Felipe Prior (o último dos “machos escrotos”), por exemplo, assumiu uma narrativa de justiceiro solitário, perseguido pelo grande grupo, e iniciou seu arco de redenção. Junto com Babu, seu único aliado no jogo (também isolado e excluído na casa), o arquiteto que tinha seu destino traçado quando os “vidraceiros” entraram na competição é o novo favorito ao prêmio, assumindo o posto que um dia foi da ginecologista.

Creio que ela entrou com a carta do feminismo da manga, mas não pensava que esse arco entraria no roteiro (e se resolveria) tão cedo no jogo — apesar de que era óbvio que esse embate ocorreria, considerando os perfis da maioria dos homens selecionados. O rótulo da “fada-sensata-perfeita-sem-defeitos-que-não-erra-nunca” foi atribuído a ela com o aval do público. Disso, em si, ela não tem culpa. Mas deveria ter assumido a responsabilidade de se manter coerente com o discurso que planejou priorizar em sua passagem pelo reality.

Me arrisco a dizer que nenhum envolvido no desenvolvimento da estratégia dela esperava uma ascensão tão grande; e nem uma queda tão forte. Depois que tudo desandou, a equipe de Marcela não soube gerenciar a crise: tentam sempre amenizar ou reinterpretar seus deslizes. A parte mais difícil, acredito, é alinhar o que está acontecendo lá dentro com o que foi planejado aqui fora e ainda tomar todas essas decisões sem que ela tenha voz ativa, por estar confinada. Tem muita coisa que realmente não dá pra prever, mas o público — de maneira geral — não gosta de quem se esquiva dos erros que cometeu.

No final das contas, o BBB é um jogo de convivência e um programa de entretenimento. E seu público não quer apenas ser entretido, ele quer coerência, uma bela trajetória, conteúdo fresco e autenticidade todos os dias, por três meses. Assim como o público das redes sociais. No médio prazo, mesmo com planejamento, Marcela não conseguiu cumprir bem nenhum desses requisitos porque fez uma leitura equivocada da intenção do público com os recados da Casa de Vidro.

Assim, deu o jogo por vencido e, sem perceber, deixou seus defeitos e contradições guiarem a maior parte de sua jornada e dominarem seu discurso. É aquela história: quem tem muitas certezas, na verdade não sabe de nada. Como diria Dona Silvana, “o calado vence”.

Moda no Instagram: como os brechós usam a plataforma para vender online

Moda é um assunto que não cabe em uma única definição. Muito além do ato de se vestir, moda tem a ver com comportamento, com tempo e espaço, com história e estilo. Por um lado, é um fenômeno sociocultural que manifesta os valores de uma sociedade: seus costumes, hábitos e as maneiras como cada um usa as suas roupas. Por outro, é um sistema que agrega contextos políticos, sociológicos e sociais ao uso diário e rotineiro das vestimentas.

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A moda passou por muitas mudanças desses os seus primórdios e, também, por muitos momentos marcantes. Como vários outros aspectos da vida, ela está em constante mutação, tanto como uma manifestação de identidade cultural e personalidade quanto como indústria. E, mesmo com o surgimento de novas formas de produzir e comercializar roupas, essa dinâmica continua verdadeira.

Foto: reprodução Girlboss / Netflix

Um exemplo disso são os brechós online. Talvez, o caso de sucesso mais famoso do nicho seja o da empreendedora Sophia Amoruso, que começou a vender roupas usadas no site de leilões eBay, em 2007. Sua loja, a Nasty Gal, deslanchou, ganhou espaço físico e acabou dando origem a um império milionário que, hoje, é liderado pela marca Girlboss, que já rendeu um livro e uma série na Netflix.

Mas, nos últimos anos, outra plataforma despontou como principal ponto de divulgação e vendas para brechós online: o Instagram. Os perfis, de maneira geral, apresentam uma curadoria de roupas “garimpadas” em bazares de bairros, igrejas ou instituições de caridade, bem como de outras lojas. As peças são lavadas, reformadas (se necessário) ou utilizadas como base para uma nova criação. As fotos são criativas e bem produzidas. E os textos das legendas vão de descrições detalhadas da peça e de onde elas vieram a dicas de moda.

Modus operandi

A rotina de quem comanda um brechó online é atarefada. Entre procurar as peças em bazares e feiras, recuperá-las e/ou modificá-las, produzir as fotos e posts, interagir com público do Instagram, cuidar da logística de vendas e fazer o atendimento ao cliente, vão-se muitas horas de trabalho.

Ingrid Thainá, que comanda o perfil Melhores Panos (@melhorespanos), faz tudo isso sozinha, o que toma praticamente todas as horas do seu dia. “Garimpo as peças em bazares beneficentes da minha cidade e, dependendo do estado, faço modificações. Depois tem o processo de lavar a peça, tentar tirar possíveis manchas etc. Envio as roupas pelos Correios e, se a pessoa for da minha cidade, entrego em mãos. Faço tudo por conta própria, não tenho ajuda de ninguém. Porém, fico resolvendo coisas do brechó 24 horas por dia”, contou.

Foto: cortesia Ingrid Thainá / Melhores Panos

Ela mora em Marília, no interior de São Paulo, e afirma passar todas as medidas das peças e enviar fotos de todos os detalhes antes de fechar a venda, a fim de evitar a necessidade de trocas. Em Goiânia, o Empório Armário (@emporioarmario_) propõe uma parceria com a clientela, que também pode vender roupas para o brechó. Desde que começou, há sete anos, a loja possui um espaço físico no centro da cidade e trabalha tanto com roupas garimpadas — inclusive em outros países, como Portugal, Espanha e Estados Unidos — quanto com outlet, ou seja, roupas recuperadas.

“Geralmente, as marcas têm o hábito de queimar todo o seu excedente, o que não foi vendido ou tinha defeito de fabricação. Agora, algumas marcas estão tendo uma consciência ambiental [maior] e revendem essas peças. Antes elas incineravam porque a venda desse ‘subproduto’ acaba diminuindo o valor de mercado da roupa. […] Mas algumas marcas, como a Cantão e a Farm, têm revendido esse excedente pra gente”, explicou a proprietária Thaís Moreira.

Com essas peças, é feito um trabalho de recuperação. Há roupas que chegam no brechó rasgadas ou sem botões, outras estão desatualizadas ou fazem parte de uma proposta que não deu certo. Nestes casos, o tecido é aproveitado para produzir algo diferente: “O que era uma blusa vira uma saia, um vestido vira uma roupa infantil. Usamos a técnica do upcycling, que é dar um novo valor a um produto que estaria perdido”.

Photo by Leticia Ribeiro from Pexels

À frente do perfil É de retalho o meu brechó (@ederetalhoomeubrecho), Karina Soares também gere uma “operação de uma mulher só”. Ela divide seu negócio entre os achados e as suas próprias criações, abrigadas em sua segunda página, a Minha Costura Arteira (@minhacosturaarteira). “Desde o início foi uma relação entre costura e brechó. Eu fazia roupas à mão, para mim, com coisas que cortava da minha mãe e amava comprar em brechó. Assim, comecei o meu”, revelou.

Ela mora em Sorocaba, em São Paulo e, para otimizar sua rotina, não faz troca das roupas usadas: “Vendo-as passando as medidas para que cada cliente tenha mais noção do que está comprando. Faço trocas apenas das costuras artesanais. As pessoas depositam na minha conta o valor da peça e do frete ou pagam via PicPay, com cartão de crédito”.

Autenticidade é identidade

Um tema recorrente no nicho de mercado dos brechós de Instagram é a autenticidade de cada loja. Os perfis carregam muito da personalidade de suas donas — o que é, em si, uma característica do universo da moda. No entanto, a maneira como cada loja se mostra na plataforma parece oferecer um ambiente propício para que o público-alvo se sinta “em casa” e se identifique em um nível mais pessoal com as peças.

Ingrid, por exemplo, teve a ideia de criar o Melhores Panos para fazer o que via nos brechós de sua cidade chegar a outras pessoas. “Sempre frequentei muitos brechós e olhava peças legais que eu não usaria, porém pensava que alguém poderia usá-las”, contou. Já Karina, faz de sua loja uma fiel e completa representação de sua personalidade: “Muita gente comenta que pareço estar fantasiada [nas fotos] e coisas do tipo, [mas] essa sou eu. E uma porcentagem grande gosta do que eu trago. […] Quando eu visto a peça, à minha maneira, ela ganha um aspecto totalmente diferente. E sou grata por isso, e muito!”.

Foto: cortesia Karina Soares / É de retalho o meu brechó

No Empório Armário, Thaís investe na curadoria e na apresentação das peças, no relacionamento com a clientela e em promover eventos. “Tem uma seleção bem legal de peças. É um brechó limpo e organizado. Trabalhamos nas redes sociais e, também, transversalmente com o nosso cliente: em um momento ele compra da gente, em outro ele vende para a gente, em outro ele vende junto com a gente. Também promovemos eventos, como a nossa Feira de Trocas, que já vai completar 8 anos, o Encontro de Brechós, o Desapego Coletivo e o Mercado das Pulgas”, enumerou.

Instagram, pra que te quero?

Como não poderia deixar de ser, o Instagram é peça fundamental no modelo de negócio dos brechós online. Thaís e Karina começaram utilizando o Facebook, mas acabaram migrando quando perceberam que seus públicos não estavam mais lá. O fato da rede ser focada em fotografia é um dos diferenciais que provocaram essa debandada, além de ser um ambiente mais propício para conteúdos criativos e de consumo rápido, visto que a impossibilidade de colocar links nas legendas incentiva a criação de textos informativos, porém, curtos.

No caso de Thaís, que tem uma loja física, o Instagram continua sendo crucial, assim como o WhatsApp: “Nosso ponto comercial não é aquele que abre a porta e espera o cliente chegar. Captamos nossos clientes pelas redes sociais e pelo boca-a-boca”.

Foto: Pexels

Mas, nem tudo são flores dentro da plataforma. “O Instagram é tudo [para o meu brechó], apesar de ter uma relação de amor e ódio com ele por conta do engajamento. Se não tivesse ‘Insta’, não teria loja. Mas, às vezes penso em abrir um site por conta disso. Tenho medo de dar algum problema e estragar meu negócio. Por outro lado, ele é perfeito para vendas, com os Stories e tudo mais. Acho a plataforma legal para isso”, argumentou Ingrid.

Para lidar com o algoritmo, os perfis investem na produção e edição das fotos e, também, buscam manter a frequência das postagens e a qualidade que o público espera do conteúdo. Uma das principais causas dessa abordagem é a grande oscilação do engajamento quando não se injeta dinheiro na plataforma, impulsionando as postagens.

Foto: cortesia Thaís Moreira / Empório Armário

A ocultação das curtidas do Instagram, ocorrida há alguns meses, no entanto, não parece ser um problema para as lojas. Para Thaís, a baixa no engajamento já vinha ocorrendo desde antes da nova medida entrar em vigor. “Acho que diminuiu um pouco a vaidade, nesse ponto foi ótimo”, afirmou. Karina, por sua vez, não notou mudanças em sua página desde que começou a trabalhar com o Instagram. E Ingrid diz se sentir mais livre para postar as fotos sem se preocupar em ficar comparando a quantidade de curtidas com as de outros perfis do nicho.

E o mercado?

Apesar do boom de interesse pelos brechós, é comum que eles enfrentem dificuldades para se estabelecerem, especificamente em relação aos preços. “Fazer com que as pessoas percebam que o trabalho dos brechós não é um hobby é difícil. Ele sustenta pessoas, ele me sustenta. […] Assumir responsabilidades com as pessoas é algo enorme, gostaria que levassem isso um pouco mais a sério”, desabafou Karina.

“As pessoas acham que brechó tem que ser muito barato porque é ‘resto’, tem aquela ideia antiga e fixa de que a única maneira de um brechó existir é com um monte de entulho e com tudo até 10 reais. Mas, mesmo esses brechós [mais populares] estão se reformulando, até porque é um mercado que tem crescido e tido mais aceitação”, complementou Thaís.

Do ponto de vista da sustentabilidade, o trabalho dos brechós se encaixa no conceito da Economia Circular (vídeo acima), criando novos ciclos de uso para produtos que seriam, a priori, descartados. Além disso, o modelo de negócio gera uma maior distribuição de renda, contribuindo para um cenário menos consumista e mais autêntico na indústria da moda.

“Estamos colocando novamente na praça peças que talvez ficariam esquecidas e que estão em ótimo estado, além de serem super estilosas. Quando você compra no meu brechó (e acho que isso acontece na maioria dos brechós, na verdade) você não está só me ajudando a ter uma renda, está ajudando a instituição de caridade X ou o asilo Y, que foi onde eu comprei essas peças para revender. Você dá uma nova chance a uma peça e ninguém vai ter outra igual a sua, isso é tão legal que nem sei explicar”, relatou Ingrid.

Karina também se preocupa com a questão do consumismo, mas acredita que sua loja promove um consumo consciente, “de peças que não viraram lixo, não viraram entulho. Elas ganharam novas histórias, aumentando sua vida útil”. Para Thaís, trata-se da compreensão do ser humano de que o desperdício impacta o ambiente no qual ele vive: “Trabalhamos com empoderamento feminino, com a compra certa de um produto de qualidade e durável, que não vem só com modismos e comodismo. A gente quer que a pessoa identifique a sua peça, seu estilo e seja feliz”, finalizou.

Você já comprou em algum brechó online?

Vamos levar a conversa adiante, conta nos comentários como foi essa experiência.

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Número de curtidas também deve ser ocultado no Facebook

Há alguns meses, o Facebook começou a testar a ocultação do número de curtidas e visualizações no Instagram. Segundo a empresa, o objetivo da medida é que “os seguidores se concentrem mais nas fotos e vídeos que são compartilhados, do que na quantidade de curtidas que recebem”. Esta semana, o site de tecnologia TechCrunch confirmou que testes devem ser feitos, também, na rede Facebook.

Veja também:
Basecamp incentiva empresas a se distanciarem do Facebook;
Algoritmo do Facebook que monitora suicídios evidencia divergências entre empresas de tecnologia e especialistas em saúde;

No Instagram, que foi adquirido pelo Facebook em 2012, a quantidade de “likes” já não é mostrada para usuários na Austrália, Canadá, Irlanda, Itália, Nova Zelândia, Japão e Brasil. Quanto ao Facebook, no entanto, não foi informado quando ou onde o programa será inicialmente executado.

O protótipo foi descoberto pela desenvolvedora Jane Manchun Wong, conhecida por desvendar recursos que ainda não foram lançados: “Observei que o Facebook começou recentemente a prototipar esse recurso de ocultação da contagem de curtidas/reações em seu aplicativo Android, fazendo engenharia reversa do aplicativo e jogando com o código abaixo”, escreveu em seu blog.

“Atualmente, com esse recurso não lançado, a contagem de curtidas/reações fica oculta para qualquer pessoa que não seja o criador da postagem, assim como funciona no Instagram. A lista de pessoas que gostaram/reagiram ainda estará acessível, mas o número ficará oculto. Curiosamente, o número de curtidas/reações nos comentários ainda não está oculto. Mas isso pode ser devido à natureza desse recurso estar em um estágio inicial de desenvolvimento. Como sempre, as coisas serão polidas eventualmente”, continuou a engenheira.

Resultados

A empresa não chegou a fazer nenhum comentário sobre os resultados dos testes feitos no Instagram. Por exemplo, se os “likes” ocultos estão interferindo nas métricas ou realmente trazendo benefícios aos usuários. No entanto, como afirma O Globo, “replicar a iniciativa no Facebook sinaliza que os resultados devem ser positivos ou, ao menos, sem impactos negativos nos negócios”.