Quando a expansão de uma grande empresa coloca em xeque um elemento fundamental da sua trajetória

Recentemente terminei de ler A Loja de Tudo (link afiliado), livro que conta a história da Amazon. Fiquei impressionado com a fixação por expansão e crescimento acelerado do Jeff Bezos. A intenção dele era dominar o varejo online a qualquer custo, mesmo que isso significasse longos períodos de prejuízo para a empresa.

Com grandes rodadas de investimento e ações bem valorizadas, a Amazon podia se dar ao luxo de derrubar os próprios preços para fazer seus concorrentes, sem o mesmo capital, saírem da disputa pelo preço mais baixo. Oferecer o menor preço é uma obsessão para o CEO da varejista.

A Loja de Tudo descreve Bezos como um apaixonado por livros. Ele já declarou que aprende mais com romances do que com livros de não-ficção. Inclusive aboliu da empresa os simplórios PPTs. Em substituição, decretou que os funcionários redigissem memorandos de seis páginas para as reuniões. Já falei sobre isso no podcast sobre imediatismo e superficialidade.

Mas todo esse envolvimento de Bezos com os livros não impediu que ele pressionasse excessivamente as editoras por preços mais baixos. As editoras têm resistido bravamente, mas vêm perdendo a batalha contra a gigante.

Aqui no Brasil há uma lei em tramitação no congresso para estabelecer a lei do preço fixo para livros inéditos. É uma tentativa de frear estratégias como a da Amazon. Mas provavelmente não vai fazer cócegas na gigante do varejo.

Hoje, se você comparar os preços de livros novos vendidos na Amazon com o preço de livros usados vendidos na Estante Virtual, por exemplo, verá que a diferença é mínima.

Veja o caso do clássico Cem Anos de Solidão na Amazon:

Preço de Cem Anos de Solidão (novo) na Amazon.

Agora a mesma obra, porém usada e em uma edição anterior:

Preço de Cem Anos de Solidão (Usado) no Estante Virtual.

Arredondando, a diferença é de apenas R$ 4,50.

Essa política desmedida de preço baixo impacta diretamente a produção de livros e leva à falência pequenas livrarias e sebos. Sem contar os danos ao meio ambiente, já que não há mais o reaproveitamento dos livros usados.

Com preços cada vez mais competitivos, quem ganha é o consumidor. O conhecimento se torna mais acessível e democrático. Isso é ótimo.

Mas a questão é: até quando este mercado suporta estes valores? Não me parece uma estratégia sustentável a longo prazo.

A situação obriga o mercado a se reorganizar. As editoras, sem caixa, já não conseguem atrair bons escritores. Estes, por sua vez, passam a questionar a real necessidade de ter uma editora. Com o mar de ferramentas disponíveis online, hoje é possível angariar recursos, produzir e distribuir um livro por conta própria.

Jeff Bezos pode estar matando, ou pelo menos ferindo gravemente, a mídia da qual tanto se beneficiou para construir o seu império.

Há pouco tempo também li Em frente! (link afiliado), livro que conta os altos e baixos da Starbucks.

Seu fundador, Howard Schultz, criou a empresa com o intuito de oferecer aos americanos a mesma experiência intimista que havia tido nas cafeterias da Itália. O país é reconhecido internacionalmente pela qualidade do seu café e pela relação que têm com a bebida. Você pode saber mais sobre isso no documentário Coffee For All.

Documentário Coffee For All

Recentemente, a cadeia de cafés americana inaugurou sua primeira loja em solo italiano, mais precisamente em um prédio histórico em Milão. 

Fachada da Starbucks em Milão

Schultz foi mais elegante que Bezos. A Starbucks, que é alvo frequente de protestos por levar cafés de bairro à falência e por ser considerada um símbolo do capitalismo, foi prudente na sua chegada à Itália e não usou a estratégia dos preços baixos. Abriram uma loja que oferece serviços premium. Assim ela não compete com as cafeterias menores. Não em um primeiro momento, mas já há planos de expansão da rede por lá.

Os italianos, pelo visto, não botam muita fé nos produtos da Starbucks:

Tanto a Amazon quanto a Starbucks estão colocando em risco um elemento-chave que foi fundamental para escrever a sua trajetória de sucesso.

A forma das empresas se sentirem seguras é crescendo e se blindando às ameaças da concorrência. Quem não cresce no passo certo, fica para trás e sofre as consequências de suas apostas malfeitas.

E, deve-se registrar, como qualquer companhia, geram novos empregos e pagam impostos. Seu crescimento se reverte em melhorias para a sociedade, de alguma forma.

Não sou bairrista e muito menos nacionalista. Acho que precisamos derrubar nossas barreiras e entrar, cada vez mais, em contato com novas culturas. Viva a globalização!

Mas acredito que seja possível a coexistência de grandes empresas em expansão e a preservação das tradições e costumes, seja ler um bom livro deitado na rede ou tomar um expresso forte tirado na cafeteria despadronizada do bairro.

Sei que no mundo das cifras graúdas não há espaço para humanismos e gentilezas. Mas eu, como um bom idealista, gostaria muito de ver as big corporations aplicando um empreendedorismo mais responsável e consciente. Aguardo o pós-capitalismo.

O que você pensa sobre a estratégia da Amazon e da Starbucks?

Compartilha comigo nos comentários e vamos levar o assunto adiante.

Quer se aprofundar no assunto?

Então sugiro a leitura dos livros mencionados no texto: A Loja de Tudo (link afiliado) e Em Frente! (link afiliado) para conhecer mais sobre as empresas.

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Realidade x Propósito: sem medo de sonhar, mas com os pés no chão

Levei bastante tempo para descobrir um propósito verdadeiro na minha vida profissional.

Foram mais de dez anos, desde a escolha por um curso universitário, graduação em Direito e atuação como advogado, até finalmente descobrir que nada disso realmente me fazia feliz.

Quando cheguei a esse período de autodescoberta, percebi que levaria um bom tempo para construir uma carreira em outra área, sem falar que minha zona de conforto (tempo, dinheiro e diversão) deveria ceder lugar a um novo projeto profissional.

Tenho 34 anos, ainda dependo do meu emprego como advogado e estou na busca por um “ofício” que me traga dinheiro, satisfação pessoal e qualidade de vida.

Mas por que lhe contei esse pequeno resumo da minha vida? Porque quero abordar um aspecto psicológico que se origina dessa encruzilhada:

Você é um realista pessimista ou um realista otimista?

Frustrada e feliz por GaudiLab / Shutterstock

A sua idade, o tempo que já passou, as contas do mês, o restaurante, o barzinho no fim de semana e aquela viagem tão sonhada, tudo isso pesa diante do pensamento “eu tenho que sair daqui!” que surge quando estamos de saco cheio com a rotina e as importunações de um trabalho que não se ama.

Ao mesmo tempo, costumamos ser sempre muito céticos sobre a situação do mercado de trabalho, a economia e as oportunidades lá fora.

“Tudo está tão certo e seguro onde estou, então para que arriscar?”

Há algum tempo, fui apresentado aos termos “realista otimista” e “realista pessimista”. Fiz uma pesquisa a respeito e descobri que alguns autores como Caroline Webb tratam desse assunto nos campos da psicologia, neuroeconomia e filosofia do sucesso.

Realista pessimista

É a pessoa que dá aos obstáculos e dificuldades um peso maior na balança, ignorando as chances de um projeto dar certo simplesmente por elas serem menores, se comparadas com aqueles fatores externos.

Realista otimista

É a pessoa que não ignora uma coisa nem outra. Ela sabe que os obstáculos e dificuldades são grandes e às vezes incontáveis. Contudo, sabe também que o acaso pode agir em seu favor.

A esse fenômeno, dá-se o nome de “serendipidy” em inglês. Mas o que significa?

Comemorando por Cineberg / Shutterstock

O New Oxford Dictionary define “serendipidy” como “a ocorrência e o desenvolvimento de eventos, por acaso, de forma satisfatória ou benéfica, entendendo o acaso como qualquer evento que acontece na ausência de qualquer projeto óbvio (aleatoriamente ou acidentalmente)”.

Isto não quer dizer que não devemos ter nosso planejamento e propósito bem definidos, trabalhar duro neles e aperfeiçoá-los conforme o tempo. Muito pelo contrário.

O que se deve interpretar desse conceito é que cada passo, cada decisão, cada abordagem, cada networking, curso, aula, link, pesquisa, leitura etc etc etc, devem ser compreendidos como uma possível janela ou brecha para novas e incontáveis possibilidades.

Ao procurar por uma coisa, pode-se deparar com algo melhor ainda! Não é uma questão de fé ou de sorte, mas algo científico.

Quanto maior o número de tentativas, maiores são as probabilidades de algo positivo resultar delas. É preciso dar chance ao acaso.

Mas o que fazer quando o caminho ainda não está claro?

Olhando o mapa por Mooshny / Shutterstock

Por mais caótico que possa parecer, é durante o processo de descoberta e/ou de procura que nos vemos diante de coisas ainda mais fantásticas.

No meu caso, minha jornada de autodescoberta se iniciou ao perceber que eu queria ser um profissional autônomo, escolher meus horários, trabalhar remotamente e me sentir apaixonado por um “ofício”.

“Beleza, eu não me sinto bem aqui e tenho alguma ideia do que quero. Mas o que devo fazer?”

Comecei a pesquisar por alternativas de trabalho remoto e, entre as opções que achei, descobri o marketing digital. Gostei da ideia de trabalhar com isso, mas ela ainda era muito vaga.

Fiz alguns cursos (fundamentos de marketing, Facebook Ads, Google Adwords, Google Analytics, etc) e decidi que me tornaria um consultor de marketing.

Logo após, veio a experiência de alguns jobs com Adwords e Facebook Ads nas minhas horas vagas, o que me animou, mas não me deixou extremamente empolgado.

Foi só um tempo depois que eu me identifiquei com a profissão que almejo agora: redator freelancer!

Trabalhar com escrita e com temas e abordagens variados me parece um trabalho dos sonhos, e vejo cada vez mais que existe muito mercado para isso!

Como se pode ver, a ideia de me tornar redator ainda não havia se apresentado claramente, mas eu já estava em uma busca insaciável por coisas novas, que nem vislumbrava antes.

Demorou, mas finalmente me vi ciente do que eu realmente quero para meu futuro profissional.

Que lição posso tirar disso?

Garota estudando por GaudiLab / Shutterstock

Se o caminho a ser trilhado ainda não está claro, faça um exercício mental de exclusão. Faça uma lista das coisas que você não quer na sua vida profissional e parta daí.

Seja realista, mas não deixe de sonhar e de nutrir esse sonho, por mais vago que ele seja. Dê chance ao acaso!

Obviamente, eu não trouxe aqui nenhuma fórmula, solução ou ideia brilhante para você que, assim como eu, está num processo de transição e/ou de autodescoberta.

O que espero desse artigo é ter trazido um ângulo diferente para se encarar as coisas e um espaço para debater essa fase de nossas vidas.

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