Opções demais paralisam: entenda por que somos vítimas do Paradoxo da Escolha

Em uma palestra do TED Talks, o psicólogo Barry Schwartz conta sobre sua experiência tragicômica ao comprar uma nova calça jeans:

“Uma época atrás existia apenas um tipo de jeans. Eles vestiam mal, eram desconfortáveis e isso só melhorava depois de usá-los e lavá-los muito.

Depois de anos usando os mesmos jeans, fui a uma loja substituí-los.

A vendedora me perguntou qual tipo eu queria: slim fit, easy fit, relaxed fit, straight fit, skinny fit, etc.

Eu respondi: quero o mesmo tipo daquele que havia quando só existia um tipo!

A vendedora não fazia ideia do que eu queria, então passei uma hora provando os malditos jeans e saí da loja com a melhor calça jeans que poderia ter na vida! Mas eu me senti pior do que quando entrei. Por que? Bem, eu escrevi um livro inteiro pra tentar explicar isso pra mim mesmo!”

O livro se chama Paradoxo da Escolha (link afiliado) e não poderia ser mais atual.

Nele, o autor explora a fundo um problema que afeta todos nós: o excesso de escolhas à nossa disposição.

Ter mais liberdade significa sempre ter mais escolhas?

Stock Photos Por golubovystock / Shutterstock

Segundo o autor, o dogma oficial da civilização ocidental é a certeza de que, para garantir o bem estar do cidadão, a solução é maximizar sua liberdade.

E como ninguém pode decidir por nós mesmos, achamos que a melhor forma de garantir liberdade é maximizar o número de escolhas. Assim, quanto mais opções as pessoas recebem, mais liberdade elas terão e, dessa forma, mais bem estar.

Essa noção está tão enraizada em nossa cultura que não ocorre a quase ninguém questioná-la.

Quer um exemplo mais sério do que o episódio das calças jeans?

Nos Estados Unidos, o médico costuma fornecer ao paciente pelo menos duas escolhas de tratamento, explicando seus riscos e benefícios. Essa prática é denominada “autonomia do paciente”.

Apesar de parecer uma coisa boa, na verdade ela é a transferência da responsabilidade pela escolha de alguém que é especializado (médico) para alguém que não está em sua melhor forma para tomar uma decisão (paciente).

Outro exemplo é o lado perverso da tecnologia portátil. Apesar de sermos abençoados com a possibilidade de trabalhar remotamente, isso quer dizer também que devemos decidir a cada momento do nosso dia-a-dia sobre estar trabalhando ou não.

Imagine você, a cada minuto das suas horas de descanso, perguntando-se:

“Será que devo responder aquele email? Será que devo atender a essa ligação? Será que termino aquele relatório?”

E mesmo que a resposta seja “não”, a experiência que você está tendo agora é bem diferente do que seria caso você não precisasse se questionar a respeito disso.

Por todo lugar, a vida é sempre uma questão de escolha.

Paralisia em vez de liberação.

Stock Photos Por MNStudio / Shutterstock

Já se sentiu extremamente indeciso diante das inúmeras opções na sua frente, a ponto de adiar sua escolha para outro momento? E acabou não fazendo essa escolha no fim das contas?

Num estudo de caso de um programa de aposentadoria voluntária da empresa Vanguard, que possui milhares de empregados pelo mundo todo, a cada dez fundos de investimentos que a companhia oferecia a mais, a adesão dos funcionários baixava 2%.

Ou seja, com 50 fundos para escolher, havia 10% menos participantes do que se a empresa oferecesse apenas 5 fundos.

Pois é. Com 50 fundos disponíveis, era tão difícil decidir qual deles escolher que os funcionários deixavam isso para depois, e depois, e depois, a ponto de acabar não aderindo a um programa que lhes pouparia milhares de dólares por ano.

Opções demais causam paralisia em vez de liberação. Com tantas opções por aí, a  simples tarefa de escolher se torna algo extremamente difícil.

Mesmo quando conseguimos escolher, o resultado é menos satisfatório.

Stock Photos Por Daniel M Ernst / Shutterstock

Quando finalmente rompemos a paralisia e tomamos uma decisão, acabamos menos satisfeitos com o resultado da escolha do que se tivéssemos menos opções disponíveis.  

As razões para isso são as seguintes:

  • Com inúmeras opções, se a sua escolha não for perfeita, é fácil imaginar que você poderia ter feito uma escolha diferente que seria melhor.

Assim, a alternativa imaginada induz você a se arrepender da decisão que já tomou, mesmo que tenha sido uma boa escolha.

Com tantas opções, é mais fácil se arrepender de cada pequena coisa que é desapontadora na opção escolhida.

  • Quando existem muitas alternativas a considerar, também é fácil imaginar os detalhes atrativos das opções que rejeitamos, e isso nos deixa menos satisfeitos com a alternativa escolhida.

Já ouviu falar na expressão FOMO, ou “fear of missing out”? Em tradução livre, seria algo como “medo de estar perdendo alguma coisa”, e parece ser uma constante em nossas vidas.

  • Escalada de expectativas: a razão pela qual Barry se sentiu pior com tantas opções de jeans disponíveis é que suas expectativas sobre o quão boa seria uma nova calça subiram.

Ele não tinha expectativa nenhuma quando existia apenas um modelo de calça jeans. Mas agora, quando existem dezenas, a expectativa é de que seja perfeita!

A calça que ele escolheu era boa, mas não era perfeita. Ele então comparou o que conseguiu com o que esperava ser, e ficou desapontado com a comparação.

 

Adicionar opções às vidas das pessoas vai inevitavelmente aumentar as expectativas sobre o quão boas são essas opções. O que isso produzirá? Menos satisfação com os resultados atingidos, mesmo que esses sejam bons resultados!

Barry menciona que quando tudo era “pior” (ou seja, quando tínhamos menos opções), era realmente possível ter experiências que se tornavam agradáveis surpresas.

Mas hoje, o máximo que podemos esperar é que as coisas sejam tão boas quanto esperamos ser. Você nunca terá surpresas agradáveis quando suas expectativas estiverem no topo.

O segredo da felicidade? Baixe suas expectativas!

As consequências? Culpa, ansiedade e depressão.

Stock Photos Por file404 / Shutterstock

Antes dessa explosão de opções disponíveis, havia somente uma ou pouquíssimas opções para cada bem, serviço ou caminho oferecido no nosso cotidiano.

Pense nos detalhes mais banais até escolhas que mudam o curso de nossas vidas: modelos de calças jeans, molhos para salada, programas de aposentadoria, pacotes de viagem, aparelhos celulares, curso superior, carreira profissional, etc.

Há um tempo atrás, caso eu não ficasse satisfeito com alguma coisa, de quem era a culpa? Do mundo, é claro! Ora, o que eu poderia fazer a respeito? Era a única opção disponível!

Como hoje temos centenas de diferentes opções, se você escolhe uma que te desaponta, de quem é a culpa?

É sua! Você podia ter escolhido melhor. Com tantas alternativas, não existe desculpa para falhar!

Acredita-se que uma das grandes causas para a explosão de ansiedade, depressão e suicídios nas últimas gerações é a culpa sentida por essas experiências desagradáveis vindas de má decisões.

Todo mundo precisa de uma bolha pra se livrar da pressão diária de escolher.

Stock Photos Por Dimedrol68 / Shutterstock

A afirmação de que ter muitas escolhas é sempre melhor do que ter algumas escolhas não é sempre verdadeira.

O autor de Paradoxo da Escolha (link afiliado) tem certeza de que nós já passamos do ponto em que ter mais opções melhora o nosso bem estar.

Em uma perspectiva econômica e política, o que permite toda essa escolha em nossas sociedades industriais é o aumento da riqueza material. Existem vários lugares no planeta em que o problema das pessoas é exatamente contrário ao nosso: a falta de opções.

O que é frustrante diante dessa diferença abismal é que essas escolhas caras e complicadas não só não ajudam, como também nos deixam piores como seres humanos. Toda essa energia e recursos disponíveis poderiam ser utilizados para melhorar a vida dos menos privilegiados e, indiretamente, melhorar as nossas próprias vidas.

Muitas vezes criticamos quem vive numa bolha, no sentido de incentivar alguém a abrir a cabeça para novas opiniões e perspectivas – o que está absolutamente correto.

Por outro lado, às vezes é justamente de uma bolha que precisamos para encontrar satisfação e felicidade em nosso dia-a-dia e nos livrar da pressão material de fazer escolhas o tempo todo.

Dúvidas, contribuições ou sugestões? Por favor, comente abaixo!

 

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Realidade x Propósito: sem medo de sonhar, mas com os pés no chão

Levei bastante tempo para descobrir um propósito verdadeiro na minha vida profissional.

Foram mais de dez anos, desde a escolha por um curso universitário, graduação em Direito e atuação como advogado, até finalmente descobrir que nada disso realmente me fazia feliz.

Quando cheguei a esse período de autodescoberta, percebi que levaria um bom tempo para construir uma carreira em outra área, sem falar que minha zona de conforto (tempo, dinheiro e diversão) deveria ceder lugar a um novo projeto profissional.

Tenho 34 anos, ainda dependo do meu emprego como advogado e estou na busca por um “ofício” que me traga dinheiro, satisfação pessoal e qualidade de vida.

Mas por que lhe contei esse pequeno resumo da minha vida? Porque quero abordar um aspecto psicológico que se origina dessa encruzilhada:

Você é um realista pessimista ou um realista otimista?

Frustrada e feliz por GaudiLab / Shutterstock

A sua idade, o tempo que já passou, as contas do mês, o restaurante, o barzinho no fim de semana e aquela viagem tão sonhada, tudo isso pesa diante do pensamento “eu tenho que sair daqui!” que surge quando estamos de saco cheio com a rotina e as importunações de um trabalho que não se ama.

Ao mesmo tempo, costumamos ser sempre muito céticos sobre a situação do mercado de trabalho, a economia e as oportunidades lá fora.

“Tudo está tão certo e seguro onde estou, então para que arriscar?”

Há algum tempo, fui apresentado aos termos “realista otimista” e “realista pessimista”. Fiz uma pesquisa a respeito e descobri que alguns autores como Caroline Webb tratam desse assunto nos campos da psicologia, neuroeconomia e filosofia do sucesso.

Realista pessimista

É a pessoa que dá aos obstáculos e dificuldades um peso maior na balança, ignorando as chances de um projeto dar certo simplesmente por elas serem menores, se comparadas com aqueles fatores externos.

Realista otimista

É a pessoa que não ignora uma coisa nem outra. Ela sabe que os obstáculos e dificuldades são grandes e às vezes incontáveis. Contudo, sabe também que o acaso pode agir em seu favor.

A esse fenômeno, dá-se o nome de “serendipidy” em inglês. Mas o que significa?

Comemorando por Cineberg / Shutterstock

O New Oxford Dictionary define “serendipidy” como “a ocorrência e o desenvolvimento de eventos, por acaso, de forma satisfatória ou benéfica, entendendo o acaso como qualquer evento que acontece na ausência de qualquer projeto óbvio (aleatoriamente ou acidentalmente)”.

Isto não quer dizer que não devemos ter nosso planejamento e propósito bem definidos, trabalhar duro neles e aperfeiçoá-los conforme o tempo. Muito pelo contrário.

O que se deve interpretar desse conceito é que cada passo, cada decisão, cada abordagem, cada networking, curso, aula, link, pesquisa, leitura etc etc etc, devem ser compreendidos como uma possível janela ou brecha para novas e incontáveis possibilidades.

Ao procurar por uma coisa, pode-se deparar com algo melhor ainda! Não é uma questão de fé ou de sorte, mas algo científico.

Quanto maior o número de tentativas, maiores são as probabilidades de algo positivo resultar delas. É preciso dar chance ao acaso.

Mas o que fazer quando o caminho ainda não está claro?

Olhando o mapa por Mooshny / Shutterstock

Por mais caótico que possa parecer, é durante o processo de descoberta e/ou de procura que nos vemos diante de coisas ainda mais fantásticas.

No meu caso, minha jornada de autodescoberta se iniciou ao perceber que eu queria ser um profissional autônomo, escolher meus horários, trabalhar remotamente e me sentir apaixonado por um “ofício”.

“Beleza, eu não me sinto bem aqui e tenho alguma ideia do que quero. Mas o que devo fazer?”

Comecei a pesquisar por alternativas de trabalho remoto e, entre as opções que achei, descobri o marketing digital. Gostei da ideia de trabalhar com isso, mas ela ainda era muito vaga.

Fiz alguns cursos (fundamentos de marketing, Facebook Ads, Google Adwords, Google Analytics, etc) e decidi que me tornaria um consultor de marketing.

Logo após, veio a experiência de alguns jobs com Adwords e Facebook Ads nas minhas horas vagas, o que me animou, mas não me deixou extremamente empolgado.

Foi só um tempo depois que eu me identifiquei com a profissão que almejo agora: redator freelancer!

Trabalhar com escrita e com temas e abordagens variados me parece um trabalho dos sonhos, e vejo cada vez mais que existe muito mercado para isso!

Como se pode ver, a ideia de me tornar redator ainda não havia se apresentado claramente, mas eu já estava em uma busca insaciável por coisas novas, que nem vislumbrava antes.

Demorou, mas finalmente me vi ciente do que eu realmente quero para meu futuro profissional.

Que lição posso tirar disso?

Garota estudando por GaudiLab / Shutterstock

Se o caminho a ser trilhado ainda não está claro, faça um exercício mental de exclusão. Faça uma lista das coisas que você não quer na sua vida profissional e parta daí.

Seja realista, mas não deixe de sonhar e de nutrir esse sonho, por mais vago que ele seja. Dê chance ao acaso!

Obviamente, eu não trouxe aqui nenhuma fórmula, solução ou ideia brilhante para você que, assim como eu, está num processo de transição e/ou de autodescoberta.

O que espero desse artigo é ter trazido um ângulo diferente para se encarar as coisas e um espaço para debater essa fase de nossas vidas.

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