Com esse episódio sobre a cidade de Lisboa em Portugal, a gente inicia uma nova coleção de podcasts aqui no Aparelho Elétrico, é a série ‘Cidades para Profissionais Independentes’.
A ideia é sugerir cidades legais, criativas, inspiradoras pra quem trabalha por conta própria e também pensa em morar fora do Brasil. A gente vai falar sobre visto, acomodação, alimentação, segurança, saúde, educação e claro: oportunidades de negócios.
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Todos os dias pipocam aqui e ali notícias de algum global que largou tudo no Brasil para se mudar de vez para a terra dos Pastéis de Belém. E parece que até mesmo a Madonna está querendo provar o que é que o fado tem.
Isso tudo não é à toa, e acho que ao final deste artigo você vai entender por que a cidade tem muito a oferecer não só para freelancers, mas também para qualquer um que queira ter mais qualidade de vida sem abrir mão do que uma cidade grande tem a oferecer.
Se você vier a Lisboa de qualquer capital brasileira, com certeza levará algum tempo até se acostumar a ver as pessoas andando normalmente às 4h da manhã na rua, mexendo em seus telemóveis ou a conversar despreocupadamente.
A primeira qualidade que os brasileiros vivendo em Lisboa provavelmente vão comentar como motivo para largar o Brasil de vez é a segurança que se tem por essas bandas.
Pode pôr seu notebook na mochila e vir de cabeça fresca: carregar seus devices de maior valor sem grandes preocupações é o padrão.
O que em geral mais impressiona os recém-chegados é a oferta de “drogas” que acontece nas regiões turísticas e noturnas da cidade, como Cais do Sodré e Bairro Alto. Mas quando pesquisamos o motivo de as autoridades nada fazerem a respeito caímos na gargalhada: a polícia afirma que de fato não pode fazer nada, pois não é ilegal vender louro na rua. Sim, é isso mesmo: vendem tempero de feijão como se fosse droga.
Ainda assim, uma precaução importante, e quase rotineira no Brasil, também é válida aqui: nas zonas apinhadas de turistas, incluindo transportes famosos, como o Eléctrico 28, você deve proteger seus bens contra a ação dos carteiristas, ou nossos conhecidos batedores de carteira ou trombadinhas.
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Como se deslocar pela cidade
Lisboa oferece uma variada oferta de transportes públicos: há metrô, ônibus e VLT, como vemos em outras cidades europeias, além dos históricos elétricos amarelos e até mesmo barcos para quem precisa atravessar para a margem sul do Tejo.
Tudo o que você precisa é de um cartãozinho verde ou branco chamado Viva Viagem, que pode ser recarregado com valores para viagens individuais (€ 1,45) ou do tipo Zapping (€ 3, € 5 etc.), que dá desconto nas viagens – cada uma sai por € 1,30.
Além disso, há o cartão chamado Lisboa Viva, que dá direito à compra de passes mensais no valor de mais ou menos € 35 para viagens ilimitadas de ônibus e metrô durante 30 dias. (Basta preencher o formulário distribuído nas estações e apresentar seu passaporte mais uma foto 3 x 4 pagando a€ 7 para retirar o cartão em dez dias úteis ou € 12 para o prazo ser reduzido a um dia útil.)
Esses valores são para viagens de metrô na zona central, de onde você provavelmente não precisará sair num primeiro momento. Consulte aqui outros valores/passes.
Andar de Uber é bem barato. A tarifa mínima do Uber X é € 2,50, e o custo do minuto + quilômetro rodado ronda os € 0,70. Uber Black também é pagável (caso você precise, como eu, fazer mudança em um carro com porta-malas grande; a minha foi num Tesla 😁). A Cabify entrou recentemente na disputa, mas nem precisei usar ainda.
As ciclovias estão começando a aparecer pela cidade onde há mais espaços planos. Mas se você quiser morar ou trabalhar pela zona histórica da cidade, prepare o fôlego. A cidade das 7 colinas é caprichada nas subidas, o que praticamente inviabiliza as pedaladas dos ciclistas iniciantes.
Lugares para trabalhar
Aqui você estará bem servido de cafés, coworkings, bibliotecas etc.
Eu particularmente gosto muito do meu home office, porque trabalhar de boinha no meu canto condiz mais com a minha personalidade e com a minha profissão.
De qualquer forma, quando não estou a fim de ficar em casa ou quando o vizinho resolve fazer obras em plena segunda-feira, ponho o note na mochila e caminho até a unidade mais próxima daquela famosa rede de cafés ou sua concorrente nacional, a Padaria Portuguesa.
Se o seu trabalho for mais people friendly, não tem problema: além de coworkings, existem pela cidade pequenos shoppings de bairro onde há boa conexão Wi-Fi e pouca gente durante praticamente o dia todo.
Além dos free hotspots, há opções de planos 4G pré-pagos que custam € 15 euros por quinzena e são ilimitados. Você pode comprar um roteador 4G (ele tem até bateria – mobilidade!) na operadora também, caso não queira usar o smartphone como modem. Eu inclusive uso um desses em casa como internet principal.
Outra opção é levar o notebook para dar um passeio na beira do Tejo e usar uma das mesinhas que existem no Parque das Nações para trabalhar. Nesse caso, não se esqueça de levar um mousepad!
Cultura, diversão e arte
Por onde começar? Lisboa tem bastante a oferecer em questões de cultura.
Os cinemas estão espalhados entre shoppings e calçadas. Sim! Ainda existem cinemas de rua. Algo muito curioso: as sessões de cinema têm um intervalo quando o filme chega ao meio; você ganha cinco minutos para reabastecer a pipoca ou ir ao banheiro.
Mas se você não é lá apaixonado pelos blockbursters americanos, não se preocupe: é possível encontrar cinemas que passam só filmes mais cabeça.
É apaixonado por literatura? Existem caminhadas guiadas pela cidade que visitam pontos importantes na vida e obra de Fernando Pessoa. A casa dos bicos, sede da Fundação Saramago, também vale a visita caso você esteja passeando por Alfama.
Design e cultura pop? O Museu do Design (MUDE) é para você. Ele fica na Rua Augusta, impossível de passar batido durante uma caminhada turística em direção à Praça do Comércio. Nessa pegada, também vale o passeio ao Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), recém-inaugurado.
E ainda fica uma pro tip: no primeiro domingo do mês as entradas em museus da cidade são gratuitas durante todo o ano.
Por fim, mas bem importante, tenho que mencionar aqui a LX Factory. Um complexo de armazéns industriais restaurados que recebe diversas lojas alternativas, restaurantes, um escritório de coworking, estúdio de tatuagem, escola de teatro, hostel, e por aí vai. Lá também fica a livraria Ler Devagar, uma graça instalada numa antiga gráfica.
Tipos de visto
Há diferentes opções para se viver em Portugal legalmente.
A primeira é vir já com data para voltar: como brasileiros, não precisamos pedir visto no país de origem e recebemos a permissão de 90 dias para transitar pelo espaço de Schengen no guichê da imigração. Para isso você precisa ter € 70 por dia de estada, passagem de volta, comprovante de acomodação, passaporte válido e seguro saúde. Esse visto é renovável mediante agendamento no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
Para estadias mais longas, se você não for cidadão europeu, será preciso solicitar um visto no Brasil.
Vou relatar aqui como foi conseguir o visto de estudante para mestrado, que foi o processo que fiz. Existem outros tipos de visto. Google it!
Admissão no curso
Até então só sei como é o processo de admissão na Universidade de Lisboa, que foi até bem simples. É preciso ficar de olho nas datas em que são disponibilizadas as candidaturas, que geralmente começam entre o fim de abril e o início de maio.
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Minha candidatura foi feita online; já o pagamento da taxa (€ 60), por transferência internacional.
Documentos que me foram solicitados:
certificado de conclusão da graduação (enviei sem carimbos do consulado/apostilamento, mas depende exclusivamente da faculdade aceitar ou não);
passaporte;
carta de candidatura.
Fui dispensada da entrevista presencial – não sei se por não residir no país ou se todos foram dispensados.
Depois de enviar a candidatura, é preciso aguardar a confirmação de aprovação ou não, que demora de um mês a um mês e meio.
Como se tira visto para estudar em Portugal?
Antes de rumar às terras de Camões, é preciso um visto para estudos. As exceções são: a) você tem cidadania de algum país europeu ou b) vem apenas a turismo.
Mas, Carol, minha amiga foi como turista e resolveu o visto de estudante lá.
Bueno, aqui estou falando como fazer as coisas do jeito recomendado. Subterfúgios não garantem que o investimento dará certo.
Então, tendo a carta de aprovação que a faculdade emite, é hora de correr atrás de todos os demais documentos.
Minha checklist tinha 17 documentos. Eles estão listados no site do Consulado Português em São Paulo. Você pode acessá-la aqui (as exigências variam de acordo com o consulado ou vice-consulado no qual você faz o processo).
Quando tiver a papelada reunida, é hora de dar entrada no pedido de visto.
Procedimentos nos consulados que conheço:
Em São Paulo, você preenche um requerimento online e paga por boleto (mais ou menos R$ 450). Depois disso, deve enviar ao consulado um envelope com todos os documentos e aguardar o chamado do cônsul, que pode ser para retirada do passaporte com o visto ou para uma breve entrevista. Se você não conseguir retirar o passaporte na hora, ele será enviado via Sedex 10 quando o processo terminar.
Em Porto Alegre, a marcação da entrevista é no site do vice-consulado. No dia, leve consigo todos os documentos reunidos na check list mais um envelope já endereçado a você. O passaporte é devolvido também por Sedex 10.
Esse processo todo envolve muitos passos e é até um pouco cansativo, mas não é impossível. Nós freelas temos resiliência de sobra. 😊
Ah, importante: esse visto tirado no Brasil dura 120 dias. Depois disso, já aqui, você solicita a autorização de residência, que tem duração de um ano.
Vida financeira
Portugal tem um sistema bancário bem particular. A movimentação é feita quase exclusivamente ou em dinheiro, ou na plataforma de débito portuguesa chamada Multibanco. Inclusive os caixas eletrônicos também são chamados de multibanco.
Aqui não existe boleto bancário. É sério, é tudo multibanco. Para pagar contas, a fatura fornece um código multibanco que você pode usar para pagamento via internet banking.
Cartões de crédito muitas vezes não são aceitos em lojas, então sempre tenha uma reservinha em dinheiro para não passar aperto. As pessoas em geral são compreensivas e deixam você correr até o ATM mais próximo para levantar o dinheiro se for o caso.
Agora comento de forma bem particular da minha experiência.
Trabalho exclusivamente para clientes brasileiros, ou seja, toda a minha renda no momento vem do Brasil.
Sendo assim, as formas que tenho de transformar reais em euros são via saque internacional (veja se o seu banco oferece esse serviço, ajuda bastante) e Transferwise.
O saque internacional não tem segredos: via internet banking ou app do banco é possível desbloquear a função. Depois disso, é só encontrar um multibanco que aceite o seu cartão e pronto: você retira em euros o valor que será debitado em reais na sua conta brasileira.
Quanto à conta no banco
O processo para tirar o NIF (CPF português) é um pouco burocrático se você chega sem conhecer portugueses. Isso porque para conseguir o documento antes de ter a autorização de residência é preciso ser representado por um português junto às finanças.
Assim como no Brasil, sem número fiscal você não consegue fazer muito, como abrir conta corrente. A solução que encontrei para não ficar sem uma conta que movimentasse euros foi o banco digital alemão N26.
No N26 é fácil e não burocrático fazer cadastro. Basta ter endereço em um dos países suportados pelo banco – Alemanha, França, Irlanda, Portugal, Espanha, entre outros.
Feito o cadastro, você passa pela verificação de identidade por videoconferência. Talvez essa seja a parte mais complicadinha, pois você terá de ditar seus dados básicos em inglês e entender as instruções da pessoa também em inglês.
Depois disso, é esperar de uma a duas semanas até que seu cartão chegue. A experiência e o design do app, comparando com uma fintech conhecida, é bem semelhante ao app do Nubank. O atendimento via chat evita que você tenha de gastar o inglês ao telefone.
Com a conta criada, precisamos transferir os suados reaizinhos. Para isso, há outra fintech famosa de quem vive com a mochila nas costas: Transferwise. Embora eu ache demorado o sistema de pagamento por boletos que eles adotaram, por enquanto é a opção que temos quando transferimos do Brasil para o exterior. O processo completo de transferência leva em torno de três dias para ser concluído.
Ah! Parece que no Rio de Janeiro há uma agência do banco Millennium que abre contas normalmente que podem ser usadas na chegada a Portugal. Pela internet você deve encontrar mais informações sobre isso.
Lugares para morar
Lembra que falei que Lisboa está na moda? Nem tudo são flores quando uma cidade entra na mira de muita gente em pouco tempo. Nos últimos meses/anos os preços dos aluguéis têm subido. Então, dependendo de onde você mora no Brasil, o valor convertido em reais pode parecer salgado.
No entanto, Portugal continua um país barato na minha opinião.
Você consegue alugar um quarto de solteiro bacana por € 300 a € 400. Se quiser fugir da burocracia do aluguel, pode procurar seu canto numa promissora startup portuguesa: a Uniplaces, cuja proposta é parecida com Airbnb, mas o público é de estudantes.
Já se o seu lance for alugar um apartamento inteiro, o custo sobe. Na plataforma, a média de preços fica entre € 800 e € 1.000.
É bom lembrar que esse valor em geral é para uma casa já mobiliada, e é comum as despesas de água, luz, gás, internet e TV a cabo serem incluídas, assim como não se tem o costume de pagar separadamente a taxa de condomínio.
Bairros
Se você quer mergulhar pelas zonas históricas de Lisboa e não se importa de andar pelas estreitas vielas de Lisboa, então seus lugares de busca serão Cais do Sodré, Mouraria, Santa Apolónia, Bairro Alto, Graça, Castelo, Alfama etc.
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Já para você que curte um estilo mais moderno, há lugares como Parque das Nações, Olivais, Saldanha, São Sebastião, Alvalade (ao lado da Universidade de Lisboa), Areeiro etc.
Custo de vida
Bom, já falamos sobre custos com transporte, moradia e internet/celular. Fica faltando comentar sobre… comida!
Eu acho barato comer em Lisboa, sobretudo quando penso quão caro pode ser achar um bom prato de arroz e feijão em outros países europeus. Aqui existe um prato português chamado bitoque, que vem com arroz, ovo frito, bife, batata frita e algum molho. Os restaurantes brasileiros adaptam o bitoque para algo parecido com a nossa à la minuta.
A dica essencial para economizar na hora das compras no mercado é sempre procurar pelas marcas próprias, porque são muito mais baratas e têm basicamente a mesma qualidade das outras.
Em tempo: se você gosta de vinhos, já comece a amansar o fígado. É possível encontrar bons vinhos e espumantes de todos os tipos por menos de € 5 nos mercados.
Para ter ideia de quanto custam seus produtos favoritos, recomendo espiar o site do Continente.
Em relação a roupas e calçados, lojas de fast fashion, como H&M, Zara, C&A etc., aqui são acessíveis (você consegue camisetas básicas a partir de € 4). Já se estiver no modo economia de guerra, sempre pode recorrer à Primark, que também tem artigos baratos para casa.
Outro ponto interessante é que os shoppings grandes ficam abertos até a meia-noite, inclusive mercado, praça de alimentação e lojas. Se você, como eu, trabalha no horário comercial do Brasil, ainda vai dar tempo de escapar para fazer aquela comprinha para o café da manhã, caso more perto.
Você já pensou em morar em Portugal?
Portugal é o Brasil na Europa. Não há lugar onde você vá se sentir mais perto de casa do que aqui, principalmente se estiver vindo de outro país que não o próprio Brasil.
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Se você nunca veio, recomendo vir, ver e sentir se gosta ou não. Depois com calma planeje como se mudar de forma tranquila e sem traumas.
Ainda há muitas outras coisas que poderiam ser mencionadas aqui, mas você provavelmente já não aguenta mais tanto blá-blá-blá.
Por isso, se você tiver mais alguma dúvida, ficarei de olho nos comentários para bater um papo com a galera sobre como é viver em Lisboa, combinado?
Comente abaixo e vamos levar o assunto adiante.
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