Me apaixonar e não subestimar qualquer projeto, por mais simples que pareça a sua finalidade, sempre foram características que portei intuitivamente. Sempre busco me apaixonar pelo tema antes de iniciar o trabalho. Lidar com isso às vezes é meio doloroso, mas preciso dessa motivação.
Dentre todos os meus trabalhos e projetos pessoais, um bom exemplo que posso apontar é o da Mother Island de 2012. Este trabalho nasceu como proposta de identidade para um simples evento, o XII Encontro Regional de Agroecologia (uma iniciativa regional para estudantes).
Hoje confesso que a ilustração tecnicamente me desconforta em alguns pontos, assim como vários dos meus trabalhos anteriores, o que é bastante comum para desenhistas e ilustradores. Depois de um tempo, você passa a observar mais as imperfeições e começa a pensar em como hoje faria diferente. Mesmo assim, ainda gosto bastante do conceito e de como a imagem representou bem o tema: “terra não é fonte de lucro”.
Depositei toda a minha energia durante a execução do trabalho. Dei o meu melhor sem pensar na finalidade da peça ou no retorno financeiro que teria.
O fato de trabalhar no projeto com toda a minha energia, como se fosse o único, não era uma ideia consciente, identifiquei isso em mim recentemente. Sempre tenho a sensação de que é minha última chance, a última oportunidade de contar alguma história. Porém, sentir isso nem sempre é muito confortável. Mas venho lidando melhor com essa “coisa” agora que tenho consciência dela.
Voltando ao evento. Foram confeccionados cartazes e as demais peças que compõem a divulgação de um congresso. Montei uma apresentação do projeto, para postar no Behance, mostrando o processo criativo e a partir daí o escoamento dela começou.
A Mother Island tomou seus próprios mares, escoando pelas vias que lhe cabiam, trazendo visibilidade, solicitações de trabalho de diferentes lugares, comentários emotivos, influenciando outros artistas e inspirando pessoas.
Uma das surpresas mais interessantes que tive aconteceu em uma busca rápida no Google, me deparei com o trabalho do artista John “Darkmessiah” Harrison, que utilizou o desenho como referência para escultura que ele fez para presentear a mãe.
Outra surpresa foi a citação na página do ator Joseph Gordon-Levitt.
Também através das fisgadas da Mother Island, fui convidado pelo Liliya Omelyanenko e Eliash Strongowski para contribuir com uma ação belíssima, a Dobra Lystivka (cartão amável). A ilustração contribuiu angariando fundos com a venda exclusiva de cartões feitos por designers e artistas internacionais. Todo o lucro foi revertido para programas de reabilitação de crianças deficientes na Ucrânia.
E ainda, recentemente ingressei no Wally App e a Mother Island está sendo indicada como um dos papéis de parede mais baixados do acervo. Volta e meio recebo notificações de repostagens da ilustração por contas no Instagram, Facebook ou menções de pessoas que a tatuaram.
Também encontrei a ilustração sendo pirateada em capinhas de celular vendidas no eBay e AliExpress com direito a citação e tudo.
Confesso que hoje tenho uma relação com essa ilustração semelhante à que o Los Hermanos têm com “Anna Julia” (risos). É o hitzinho que você não tem como escapar.
Porém, não subestimar qualquer trabalho deixou de ser apenas intuitivo e passou a ser muito justificável, passou a ser uma diretriz que precisa ser bem administrada emocionalmente.
#AbrindoACaixaPreta é a seção do Aparelho Elétrico onde a gente busca mostrar mais do que o olho pode ver. A ideia é desvendar detalhes e desafios dos bastidores de projetos foda.
Por aqui já conversamos com o Róbsom Aurélio, criador da fonte Rooftop, e hoje é a vez de batermos um papo com a ilustradora Clau Souza, que ilustrou os 20 personagens da Escolinha do Professor Raimundo.
Vem saber mais sobre esse projeto, rola aí pra baixo!
Oi, Clau! Seja muito bem-vinda às nossas humildes instalações aqui no Aparelho Elétrico. Nossa ideia aqui hoje é principalmente revelar alguns detalhes sobre o processo de produção das tuas ilustrações da Escolinha do Professor Raimundo. Mas antes eu gostaria que você contasse um pouco da tua trajetória profissional até o momento atual.
Por mais estranho que seja, meu trabalho com ilustração começou quando eu ainda trabalhava como redatora numa agência de publicidade. Na época a agência tinha contratado um estúdio de ilustração para fazer um storyboard de um VT e eles furaram a entrega e eu me ofereci pra desenhar (muito timidamente). Tudo foi feito de um jeito bem cru, mas que resolveu naquela hora, então tudo certo!
Depois disso parti pra um estúdio de ilustração em muitos trancos e barrancos, voltei para a vida de agência e acabei focando em ilustração. Era um ritmo frenético, como em toda agência, né?! Tudo ia bem, os jobs de ilustração não paravam de entrar e eu me sentia a última bolacha do pacote.
Até que um dia o volume começou a diminuir e o que me destacava na criação, acabou sendo o motivo do meu pé na bunda! A vida é uma ironia! O desespero bateu, porque tive que diminuir os créditos das aulas pra dar conta de pagar a faculdade, mas já engatei um outro emprego numa house e foi aí que comecei a fazer os freelas.
Dois anos com os freelas, me mudei pra Curitiba e abri o Estúdio Borogodó com o meu marido e artefinal Alexandre Saito e começamos a trabalhar com projetos maiores.
Depois de pouco mais de 2 anos com o Estúdio, também abrimos a Lojinha e os Cursos Criativos e estamos há um mês aqui no Canadá! A ideia é que aqui a gente amplie nossos serviços e comece a trabalhar no mercado internacional :D
As ilustrações da Escolinha fazem parte de um projeto pessoal seu. Qual é a mágica pra fazer um projeto pessoal acontecer em paralelo a pauta do dia-a-dia? No vídeo que você publicou falando do projeto, você contou que reservou 1h/dia para estudar cada personagem. Tem como detalhar um pouco mais, quais foram as etapas? Você usou alguma ferramenta/app pra te ajudar a se organizar?
A mágica acontece com planejamento! Como eu comentei no vídeo, se você quer conciliar os jobs de clientes com projetos pessoais é preciso organização e muito empenho. E olha que mesmo planejando tem horas que os prazos ficam apertados e você precisa dar prioridade aos clientes, então são os fins de semana que entram na roda!
Especialmente no mês que resolvi criar o projeto da Escolinha, o volume de trabalho estava pesadíssimo – mas precisa ter foco na missão!
Pra me organizar eu uso o aplicativo CoSchedule que foi uma solução super prática pra eu enxergar toda a minha agenda: as demandas do Estúdio, Lojinha, blog e cursos – e, claro, os projetos pessoais.
E contando um pouco mais sobre as etapas do projeto da Escolinha:
1. Escolhi o tema e o que eu queria estudar – nesse caso estudo de rostos.
2. Parti para o estudo de vídeos e fotos dos personagens antigos e da nova versão. Nessa hora os vídeos são mais úteis, porque mostram os trejeitos e expressões dos personagens (tudo em movimento).
3. Com vídeos e fotos à disposição, começo os rafes! A quantidade varia, mas sempre são, no mínimo, 4 rafes pra escolher um deles para finalizar. Nessa fase tomo notas de alguns pontos chaves como formatos de rosto, se a expressão está convencendo, se preciso reforçar alguma coisa.
4. Com o rafe escolhido, passo para o computador e redesenho tudo no Illustrator. É nessa fase que defino a paleta. Nesse caso quis manter minha identidade com uma proposta colorida e enxuta, mas queria dar um tom retrô, pela série ter toda essa onda nostálgica.
5. No final repasso cada personagem e adiciono os acabamentos, como as padronagens e outros ajustes finos e finalizo a composição do poster. Foi!
Qual foi o maior desafio que você enfrentou durante o processo?
Como eu trabalho principalmente com projetos infantis, existem expressões que são pouco trabalhadas nos jobs, além do fato de que com o tempo você pode criar certas fórmulas na hora de desenhar e ficar preso a determinadas expressões, sem nem notar.
A gente acaba tendo uma tendência a desenhar os mesmos formatos de rosto, os mesmos tons, as mesmas expressões – aquilo que já sabemos que funciona.
E os projetos pessoais estão aí pra isso: testar novas possibilidades e praticar aquilo que não costumamos fazer em jobs para clientes. E personagens cômicos como os da Escolinha são uma aula (trocadilho alert!), desde as expressões até o figurino.
Veja abaixo o vídeo do Processo Criativo da Clau Souza para ilustrar os personagens. A entrevista continua na seqüência.
No vídeo você conta que a Escolinha do Professor Raimundo marcou a sua infância, então foi uma escolha natural. Mas qual seria uma outra opção, qual turma de personagens você também gostaria de ilustrar e por quê?
Antes da Escolinha eu comecei a fazer alguns rafes da segunda temporada do True Detective e eles inclusive vieram comigo aqui pro Canadá.
Adorei a série e as expressões dos personagens são tão profundas e sinistras, que seria legal testar algo tão pesado com um toque fofo!
Também cogito a ideia de fazer uma coleção relacionada a religiões com imagens como o Buda, Ganesha. Gosto muito de representar a fé e seus mais diferentes formatos… quem sabe!
Se você tivesse que refazer o projeto com o conhecimento que tem agora. Você faria algo diferente?
Na verdade quem trabalha com criação sempre pensa que poderia melhorar e se deixar eu fico mexendo na ilustra por um ano! Na minha cabeça, sempre dá pra fazer algum detalhe diferente, mas eu respeito muito as fases da carreira e a história de cada projeto, até porque é muito bom ver o quanto evoluímos.
Por que investir tempo em um projeto pessoal como esse, os jobs do cotidiano não estavam mais te desafiando, faltava liberdade de criação para mostrar o teu potencial?
Na verdade eu não enxergo exatamente dessa forma. Quando os clientes te contratam eles enxergam no seu portfólio o que você pode oferecer para eles, então fica mais fácil se eles conseguirem ter isso mais a mão. Sabe aquela história de ver com a mão?!
O meu portfólio é bem focado em personagens, mas existem projetos com abordagens diferentes e isso se deve muito as experiências que fiz paralelamente aos jobs.
Merecidamente as ilustrações ganharam atenção de alguns blogs especializados. E você também trabalha com uma assessoria de imprensa. Quando você viu que precisava profissionalizar essa área e quanto isso tem colaborado para divulgar o teu trabalho?
A partir do momento que abri o Estúdio muita coisa mudou (e não foram só os impostos!). Eu vejo que chega um momento que você tem que dar um passo maior para ter maiores resultados.
Meu sócio cuida da parte administrativa, temos um comercial focado na Lojinha, também abrimos para distribuição para lojas de todo o Brasil, contratamos um especialista em SEO e recentemente contratamos a assessoria de imprensa, que é uma importante ferramenta que nos ajuda a chegar em mídias especializadas.
Notei que precisávamos começar a construir nossa marca e reforçar que estamos aqui criando muitos projetos bacanas.
Quais são os planos pra essas ilustrações agora, vão virar produtos na tua loja? Você vê o e-commerce como uma opção para os ilustradores conseguirem incrementar a renda? Conta um pouco sobre a tua “lojinha”.
Nós ainda estamos pesquisando sobre os direitos da Escolinha para comercializar o poster na Lojinha, mas em breve teremos uma posição sobre isso, até porque o pessoal está pedindo!
E sim, uma loja online é uma forma muito bacana de incrementar a renda do ilustrador, mas ela não vende sozinha. Aprendi que pra fazer a roda girar você tem que investir, tempo e dindin!
Na nossa Lojinha vendemos pôsteres com minhas ilustrações e começamos com a Coleção Bença, retratando alguns dos santos mais populares do Brasil. Como disse gosto muito de temas relacionados a fé e foi muito amor criar essa coleção! Também temos os pôsteres personalizados, que o pessoal ama demais: tem poster de família, de casal e outras opções para encomendar sob medida!
Vejo que você é bastante empreendedora. Além de trabalhar como ilustradora, você tem um e-commerce, produzconteúdo e também dá aulas de ilustração. Isso é um reflexo do seu perfil ou é uma necessidade imposta pelo mercado da ilustração no Brasil?
Sinceramente, ambos! Mas essas várias frentes foram surgindo aos poucos, de acordo com as demandas.
O curso de carreira ilustrador por exemplo, surgiu porque aspirantes a ilustrador começaram a mandar emails aflitos e eu sei bem como é enfrentar os desafios do começo de carreira e como é importante ter uma fonte de informação amiga :)
Clau, muito obrigado por dedicar um tempo para bater esse papo com a gente e revelar um pouco mais dos detalhes por trás do teu trabalho. Gostaria que você deixasse as tuas redes sociais e demais links para quem quiser saber mais sobre o teu trabalho ou fazer o teu curso. Fica à vontade.
Imagina, foi um prazer dar um alô por aqui! Beijos e queijos pra vocês, queridões!
O que você achou da entrevista com a Clau Souza? Você já havia pensando em quantas oportunidades existem no mercado de ilustração: aulas, loja virtual, produção de conteúdo…? Vamos continuar esse papo na caixa de comentários abaixo.
Na seção inspiração você encontra mais projetos legais como esse.
Se você acha que esse conteúdo é útil, compartilhe nas suas redes sociais. Isso ajuda o Aparelho Elétrico a continuar publicando conteúdo interessante e gratuito pra todo mundo que trabalha como freelancer.
Cadastre-se na nossa newsletter e seja o primeiro a saber da publicação de novos posts como esse. Basta colocar seu e-mail no box abaixo.
#AbrindoACaixaPreta é a seção do Aparelho Elétrico onde a gente busca mostrar mais do que o olho pode ver. A ideia é desvendar detalhes e desafios dos bastidores de projetos foda.
Pra dar o pontapé inicial neste novo espaço, conversei por e-mail com o Róbsom Aurélio, o Mindú. O cara criou a fonte Rooftop que ébaseada nas pixações feitas com rolinhos de tinta. Com perdão do trocadilho, rola aí pra baixo e vem saber mais sobre essa história.
[Aparelho Elétrico] Gostaria de começar pedindo pra você se apresentar. Do ponto de vista profissional, quem é o Róbsom Aurélio e de onde vem o apelido Mindú?
[Róbsom Aurélio/Mindú] Sou um estudante de Design da UnB, estagiário no TJDFT atualmente, ilustrador, freelancer e me considero um designaholic. Sou muito apaixonado pelo que faço e fascinado pelo poder de transformação que o designer tem em mãos. O apelido Mindú vem do graffiti, arte que pratiquei por um bom período da minha vida, mas que atualmente estou mais admirando e me inspirando do que praticando.
A Rooftop é uma fonte baseada na pixação feita com rolinhos de tinta. Você me contou que o projeto não faz apologia ao vandalismo. Por que criar uma tipografia associada a uma prática tão condenada pela sociedade?
O fato de ela ser uma prática condenada pela sociedade não exclui o fato de a pixação constituir um sistema complexo de códigos e comunicação, com uma variação de estilos nas letras, formas, maneiras de se aplicar a tinta, materiais utilizados e outras coisas. Ela varia muito de região para região, varia conforme o contexto social no qual está inserida, enfim, para muitos não é um hobbie e sim um estilo de vida. E como tal, fica a questão, porque ignorá-la? Acredito que o aspecto formal desse tipo de escrita seja mais digno de atenção do que o preconceito dirigido à ela.
Em função do projeto, você vem conquistando uma certa atenção para a sua carreira. Já inclusive apareceu em alguns blogs especializados. Como tem sido a aceitação da imprensa a esse projeto? Satisfatória?
Estou muito feliz com a aceitação do projeto, têm sido bem satisfatória. Até mais do que eu esperava. Foi o feedback positivo de minha então professora e de meus colegas de classe que me fez levar esse trabalho adiante. Na verdade, minha pretensão inicial era passar na matéria com uma boa menção, mas depois de ter conseguido isso vi que poderia ir além. Nas férias dei continuidade a fonte, fazendo mais caracteres.
Publiquei esse trabalho no Behance no mesmo dia do evento Behance Portfólios Review Brasília e lá eu tive uma boa avaliação de meu portfólio, ganhei até a medalhinha “Behance Appreciation Award”, isso me animou bastante. O pessoal gostou muito da fonte. Quando percebi, estava recebendo elogios não só de designers, mas também de ilustradores, pixadores e graffiteiros. Enfim, até dono de tipografia do exterior (imprensa tipográfica) veio me parabenizar.
Dia 6 de junho agora o projeto apareceu em destaque na galeria com curadoria para design gráfico do Behance, dando bastante visibilidade no exterior. Em breve ela estará concorrendo no LAD (Latin America Design Awards) e vai ser bem bacana participar de algo dessa magnitude.
Atualização 18/07 às 19h27min: Infelizmente a inscrição da fonte Rooftop não foi possível no LAD pois a organização só aceita projetos que foram desenvolvidos para um cliente.
Você sofreu algum tipo de ofensa ou retaliação por ter criado este projeto?
Não, mas sou todo ouvidos para conversar com alguém que tenha uma opinião negativa a respeito da fonte.
Vi que a Rooftop é muito bem acabada. Inclusive você dedicou atenção aos acentos e cedilha. É a sua primeira experiência criando uma tipografia?
É a primeira vez que crio algo do tipo, sem trocadilhos. Criar letras para escrever meu apelido em forma de graffiti foi uma constante na minha vida, mesmo que muitas vezes não saísse do papel, mas criar uma fonte foi bem diferente, até porque eram todas as letras e muitos outros caracteres que nunca havia experimentado. Mas definidos os módulos, que seriam utilizados na fonte com base nos movimentos executados pelos pixadores ao usar o rolinho no extensor, isso se tornou mais simples.
Visei a legibilidade, pois a intenção da fonte é ser usada em curtas legendas, logotipos, e afins, uma fonte para display. Confesso que trabalhar com uma função que não é só estética foi bem motivador para mim.
Como você se organizou para concluir a fonte? Trabalhou sozinho? Definiu etapas? Qual o prazo que você tinha? Conta um pouco como foi o decorrer do projeto.
A primeira parte do projeto (letras do alfabeto e números) eu fazia nos finais de semana e em algumas aulas, que era quando tinha tempo. As etapas foram:
Criação do conceito;
Desenvolvimento das letras no papel normal;
Criação das letras no papel quadriculado;
Definição dos módulos;
Experimentação no software e construção das letras no mesmo.
Todas essas etapas foram intercaladas com testes, claro. O prazo era de cerca de um mês, se não me engano. Nas férias seguintes à apresentação do trabalho, dei continuidade ao projeto acrescentando ligaturas, acentos e demais caracteres.
Como foi colocar a mão na massa… você fotografou as pixações trouxe as fotos para um software e redesenhou as letras e números? Você conseguiu imagens de todos os caracteres ou, em algum momento, teve que seguir sua própria intuição?
Eu já tinha um conhecimento razoável das formas das letras de pixação devido à observação, reparo em quase tudo que é escrito nas ruas, desde propagandas a declarações de amor. Até pouco tempo atrás eu ainda morava no Goiás. Pra chegar na faculdade, trabalho, etc… eram muitas horas de viagem. Então, pixação era o que não faltava aos meus olhos.
Na realidade, as fotos que tirei serviram mais para ilustrar o que eu estava fazendo do que para servir de base para a construção do alfabeto.
Além da observação, tem o fato de eu já ter feito graffiti com extensor, o que facilitou a compreensão de como determinadas formas e contrastes surgem conforme determinados movimentos e quais são os movimentos mais utilizados para se escrever com esse instrumento.
Falando agora um pouco de “negócios”. Você optou por disponibilizar a fonte gratuitamente. Não seria interessante comercializar? Por quê?
Bom, ela é free para uso pessoal, mas não comercial. Pode ser bem útil para coletivos, grupos culturais, designers que se identificam com essa pegada urbana e tem interesse de passar determinada ideia com esse estilo. É uma honra ser útil para esse tipo de iniciativa. Acho que se essa fonte conseguir fortalecer algum movimento cultural na periferia, será muito bom.
Mas claro, se um canal milionário de televisão, por exemplo, quiser se apropriar dessa fonte (que não nasceu da noite para o dia), vai ter que pagar pelo meu trabalho. Afinal, eles ganharão dinheiro com isso.
Também penso o seguinte, como essa foi minha primeira fonte e eu ainda não sou um tipógrafo profissional, disponibilizá-la gratuitamente poderia ser uma boa forma de conseguir atenção para meu trabalho, como um todo.
Pensa em desdobrar a Rooftop em uma família tipográfica? Se não, ao menos pensa em continuar atuando na criação de tipografias? Você acha que é um mercado rentável?
No momento não. Mas farei umas atualizações nela, corrigir uns detalhes por enquanto. Penso em criar a versão em negrito, que no caso seria inspirada numa pixação feita com rolinhos mais largos. Eu quero criar mais fontes, mas não vou forçar nada por agora, deixarei para trabalhar nisso quando surgir alguma ideia bem criativa.
Se você tivesse que refazer esse projeto com o conhecimento que tem hoje, você faria algo diferente?
Além de procrastinar um pouco menos eu estudaria mais a ferramenta (Fontstruct) antes de começar a usá-la, mesmo sendo bem simples. E procuraria conhecer outras ferramentas também.
Róbsom, muito obrigado pelo tempo dedicado pra conversar com a gente e parabéns pelo trabalho. Você gostaria de deixar algum link pro pessoal te acompanhar?
Eu que agradeço, Henrique! É uma grande honra mostrar um pouco do meu trabalho e processo num site que tanto colabora conosco, freelancers e profissionais criativos. Espero que inspire muita gente a enxergar grandes oportunidades e também boas soluções em coisas do cotidiano. Deixo o link do meu perfil no Behance, lá vocês encontrarão alguns dos meus trabalhos e os links para minhas demais redes sociais.
O que você achou desta entrevista? Já pensou em explorar esse mundo das tipografias? Vamos continuar esse papo na caixa de comentários abaixo.
Na seção inspiração você encontra mais projetos legais como esse.
Se você acha que esse conteúdo é útil, compartilhe nas suas redes sociais. Isso ajuda o Aparelho Elétrico a continuar publicando conteúdo interessante e gratuito pra todo mundo que trabalha como freelancer.
Cadastre-se na nossa newsletter e seja o primeiro a saber da publicação de novos posts como esse. Basta colocar seu e-mail no box abaixo.