“Q”, a voz digital que não tem gênero definido

“Q”, a voz digital que não tem gênero definido

Projeto desenvolvido por linguistas, tecnólogos e designers de som busca representatividade para pessoas não binárias no meio digital
  Por Giovanna Beltrão
Stock Photos Por Independent birds / Shutterstock

Se você tem o hábito de usar assistentes de voz, provavelmente interage com uma voz feminina ou masculina. No entanto, muitas pessoas não se identificam como homem ou mulher e, por isso, não se sentem representadas por essas vozes. Pensando nisso, um grupo de linguistas, tecnólogos e designers de som – liderados pela organização Copenhagen Pride e pela Virtue (agência criativa da Vice) – aceitaram a missão de criar uma voz digital sem gênero definido, feita a partir de vozes reais. A esta voz, foi dado o nome Q (lê-se “quiu”).

Q ainda não tem previsão de chegada aos smartphones, mas já existe uma campanha de divulgação para que empresas como Google, Apple, Microsoft e Amazon conheçam a voz e, eventualmente, a incorporem em seus produtos. A ideia é argumentar com a indústria da tecnologia que as questões de gênero não são necessariamente binárias.

Segundo reportagem da Wired, a escolha de vozes femininas para assistentes digitais e masculinas para robôs de segurança não é por acaso. Siri, Cortana e Alexa são femininas porque usuários reagem melhor a elas, estudos apontam. No entanto, essas escolhas podem reforçar estereótipos de que vozes femininas são prestativas e atenciosas, enquanto as masculinas imprimem autoridade.

Processo de criação

Esta não é a primeira tentativa de criar uma voz neutra, mas a ideia de desenvolver Q vai além de buscar a inclusão no ambiente tecnológico e visa, também, estimular conversas sobre questões sociais. Para chegar ao resultado final, a equipe começou registrando as vozes de 12 pessoas que se identificam como masculinas, femininas, transgênero e não binárias. Cada uma leu uma lista predeterminada de frases.

“Naquele momento, não sabíamos se íamos estratificar as vozes, então precisávamos da mesma frase no mesmo ritmo, o mais perto possível”, disse o designer de som Nis Nørgaard. A intenção era juntar as vozes e tirar uma “média”, mas isso se mostrou muito difícil. A solução encontrada foi focar na voz de uma pessoa, que registrou um tom entre o que é considerado masculino e feminino, de 145 a 175 hertz (é possível conferir as variações desse intervalo no site de Q).

Nørgaard criou quatro variantes da voz, que foram enviadas para 4.500 pessoas na Europa. Uma delas se destacou entre os pesquisados. “As pessoas diziam: ‘Esta é uma voz neutra. Eu não posso dizer o gênero dessa voz ”, contou o designer. “No começo, eu pensava que isso seria difícil. Mas quando obtivemos feedback dessas 4.500 pessoas, acho que nós o acertamos, na verdade”. Essa voz se tornou a base para a Inteligência Artificial (IA).

“Dar voz aos sem voz”

Segundo a Wired, Q pode ser a solução para “dar voz aos sem voz na tecnologia moderna”. Para Ask Stig Kistvad, homen trans que emprestou sua voz ao projeto, “é realmente importante ter representação para pessoas trans não apenas em relação à IA, mas às vozes em geral”. Isso é particularmente importante considerando o crescimento no uso de assistentes de voz, que deve crescer 35% ao ano até pelo menos 2023.

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 Publicado em 18/03/2019 Atualizado em 26/04/2019
Giovanna Beltrão Jornalista. Mestra em Jornalismo. Especialista em Processos e Produtos Criativos. Trabalha com Comunicação desde 2007. Se interessa por cultura, tecnologia, viagens e gastronomia. Acha estranho escrever sobre si mesma na 3ª pessoa.
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