O jornalismo é uma das profissões diretamente afetadas pela tecnologia. E isso não se limita às mudanças nos meios de comunicação e na velocidade da informação. O acesso a dados cada vez mais complexos e detalhados também interfere no dia a dia dos repórteres e muitos veículos têm buscado maneiras de trabalhar melhor esse conteúdo.
O New York Times, por exemplo, criou um programa de treinamento de dados para seus jornalistas. Recentemente, a editora de storytelling digital, Lindsay Cook, explicou como esse trabalho tem sido feito em um artigo para a publicação Times Open, no Medium, onde são compartilhadas histórias sobre a criação dos produtos digitais do jornal.
Cook abre o artigo estabelecendo a importância do trabalho com dados na rotina dos jornalistas, visto que as bases de dados de governos, políticos e empresas são cada vez maiores e podem conter informações valiosas para o interesse público. Diante disso, a equipe de transição digital do NYT decidiu, no ano passado, analisar como poderiam aumentar o conhecimento de dados dos repórteres e ajudá-los a cobrir essas pautas.
“A missão da nossa equipe é ‘transformar continuamente a redação’ e, com o foco no treinamento de todas as mesas [de jornalistas], estamos bem posicionados para abordar esses problemas em grande escala”, escreveu. A ideia era dar suporte para que os repórteres pudessem entender melhor os números que recebem de fontes e do governo e proporcioná-los as ferramentas para analisar esses números.
“Queríamos aumentar a colaboração entre jornalistas tradicionais e não tradicionais para histórias […]. E, com mais concorrência do que nunca, queríamos capacitar nossos repórteres para encontrarem histórias escondidas nas centenas de milhares de bancos de dados mantidos por governos, acadêmicos e think tanks. Queríamos oferecer aos nossos repórteres as ferramentas e o suporte necessários para incorporar dados em seus relatórios diários, não apenas em projetos grandes e ambiciosos”, revelou.
Segundo Cook, o jornal desenvolveu programas pilotos, que foram expandidos e, nos últimos 18 meses, mais de 60 repórteres e editores foram treinados e produziram dezenas de histórias baseadas em dados. “O treinamento é rigoroso. Com base no Planilhas Google, ele começa com habilidades de iniciante, como classificação, pesquisa e filtragem; progride para tabelas dinâmicas; e termina com habilidades avançadas de limpeza de dados, como afirmações ‘if’ (se) e ‘then’ (então) e vlookup (função específica para pesquisas de valores em planilhas)”, explicou.
A partir dessa compreensão dos dados, a equipe procura debater estruturas de histórias favoráveis a eles, as implicações éticas e como criar reportagem com dados à prova de balas. Além disso, há uma série de palestras com especialistas de outros departamentos do jornal, como as equipes de Gráficos e Notícias Interativas.
No final do artigo, a editora reconhece que a maioria das publicações não têm estrutura para oferecer um treinamento tão completo aos repórteres. Mas reitera que aumentar as habilidades em dados é uma necessidade geral do jornalismo. “Por isso, decidimos compartilhar nossos materiais na esperança de que alunos, professores ou jornalistas de outras publicações possam achá-los úteis”, concluiu, disponibilizando um link de acesso a diversas planilhas e apresentações utilizadas no programa.
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