Semana passada me peguei lendo uma pesquisa feita em Harvard na área de neurociência. Era durante o horário de trabalho e não estava procrastinando nenhum job, estava pesquisando para um artigo sobre a importância da identidade visual no branding de uma empresa. Sempre tive interesse em ciências mas, não sendo esta minha área de atuação, sempre achei difícil encontrar tempo para ler mais sobre o assunto. Até começar a escrever.
Sempre gostei de escrever mas apenas recentemente comecei a escrever sobre design ou sobre meu trabalho. Eu tinha um bloqueio. Achava que não tinha o que dizer sobre estes assuntos. Pelo menos, nada que fosse interessante o suficiente para que alguém quisesse ler. Então o Medium apareceu, alguns colegas me encorajaram e um dia tive uma ideia para um artigo, “Divagações sobre originalidade e inovação“, escrevi e publiquei rapidamente.
O texto foi bem recebido, pela minha microscópica audiência (basicamente minha família e amigos :p), com algumas recomendações e compartilhamentos. Mas isso não foi o mais importante. O mais importante foi a sensação de ler e reler aquele artigo e perceber que eu tinha conseguido construir uma argumentação em torno de uma ideia. Para terminar o artigo, eu fiz uma rápida pesquisa por algumas citações e biografias e de repente estava lá no Medium: meu ponto de vista, construído com base na minha experiência, na minha percepção e na minha pesquisa.
Desde então, decidi incluir a escrita como parte da minha rotina. Não foi nada fácil – e continua não sendo até hoje. Mas comecei a perceber como as coisas necessárias para conseguir manter um calendário constante de artigos também são coisas que me fazem uma profissional melhor.
Uma das minhas grandes dificuldades era pensar em temas para os artigos. Como arrumar assunto sempre? A resposta na verdade é simples e conectada a algo muito importante para o design e para a criatividade: observar.
Para mim, em termos práticos, significou apenas tomar pequenas decisões para trazer meu foco para o tempo presente. Passei a definir horários e rotinas para ler coisas que me interessam, visitar lugares que me inspiram, assistir produções que me divertem.
Neste mundo em que vivemos, superpopulado de informações, é comum nos sentirmos pressionados a estar sempre por dentro das últimas novidades. Ao menos, eu sei que me senti assim por muito tempo.
Mas ao invés de ceder à pressão, escolha de forma consciente quais coisas você quer consumir. Faça escolhas e dedique tempo à elas ao invés de abrir 10 abas no navegador, andar sem prestar atenção ou fazer maratonas infinitas de Netflix.
Depois será necessário dar-se tempo para digerir o que consumiu. É difícil encontrar este tempo se você está sempre correndo atrás da próxima novidade.
Outra grande dificuldade que tinha era organizar as ideias. Muito se fala em como é difícil – e necessário – tirar as ideias do papel. Mas eu não conseguia nem mesmo colocar elas no papel. Elas vinham e iam embora e eu ficava com aquela sensação de nunca ter tempo de dar atenção à elas.
Achava que se não fosse atrás de uma idéia imediatamente, eu perdia o momento. Se não escrevesse na hora em que a inspiração baixasse, eu a perdia. Mas isso não é nada prático. É irreal pensar em uma ideia ou inspiração como esta criança mimada que demanda atenção irrestrita naquele momento ou então não brinca mais.
Passei então a organizar minhas ideias como documentos. Não quis fazer uma lista porque eu acabo nunca voltando à elas. Minhas listas sempre foram o lugar em que minhas ideias iam para morrer. Decidi criar um novo documento para cada ideia de artigo no Google Drive. Eu crio um documento em branco, escrevo o título ou a ideia principal para aquele artigo e salvo.
Para mim, esta estratégia fez diferença pois agora eu tenho uma folha em branco para preencher com o restante daquela ideia. Pode parecer bobagem, mas o simples fato de mudar minha percepção sobre a folha em branco, mudou minha forma de abordar a criação e a escrita. A minha folha em branco deixou de ser um algoz exigindo novas ideias e passou a ser um espaço disponível para o que eu tivesse a dizer no momento.
Quando chega o momento da minha rotina em que devo escrever, abro um dos documentos e começo. A inspiração costuma me ver brincando assim e aparecer.
Tem uma coisa que eu tenho gostado demais neste processo de incluir a escrita na minha rotina: a pesquisa. Ela foi a resposta para um outro bloqueio que eu tinha:
“Será que eu tenho conhecimento suficiente para falar sobre isso?”
A resposta para esta pergunta normalmente é: não.
Mas o problema não está na resposta, mas na pergunta. Encontrar a pergunta certa também mudou minha percepção sobre criar e escrever:
“Que conhecimento deste assunto eu tenho para poder escrever?”
Não preciso saber de tudo para escrever, posso escrever sobre o que eu sei. Se no meio do processo encontrar lacunas neste conhecimento, e sempre encontro, basta pesquisar (três vivas ao Google!).
Foi assim que passei a assistir diversos TED Talks, ler mais artigos e pesquisas – científicas e de marketing. Obter mais conhecimento passou a ter hora e propósito na minha rotina. Não é mais “tenho que estudar isso”, e sim “preciso descobrir esta informação para terminar de escrever este artigo”. Bem mais assertivo, não?
Durante toda minha vida de profissional criativa, sempre brinquei que adoro “lamber minha cria”. Adoro ficar olhando o que eu criei. No começo, são só amores e aquela sensação muito legal de ter construído algo. Minhas criações são como filhos que coloquei no mundo. Mas como todo filho, sempre chega o momento de deixar a segurança de casa e partir pra vida.
É nesta hora que tudo muda. Minha criação saiu da segurança do meu pequeno mundo e foi encarar o mundo real. Eu passo a enxergá-la em outro contexto, passo a enxergar outras forças e outras fraquezas. Percebo melhor onde fui bem e onde poderia ter melhorado. Por vezes, o processo pode ser caótico ou dolorido, mas ele sempre resulta em algo interessante. Ele me coloca de volta naquele primeiro passo que tomei para escrever mais: observar.
E então alimento um ciclo virtuoso. Escrever sempre me faz escrever mais.
Se tem algo poderoso no ato de escrever é sua capacidade de te dar liberdade. Eu comecei a escrever este artigo sentada na rodoviária enquanto aguardava um ônibus que me levaria a uma reunião de trabalho, livre das restrições de horário ou local de trabalho. Ao colocar todas estas idéias no papel, minha mente ganhou espaço livre para outras idéias. Ao publicar este artigo, eu me liberto da ansiedade de criar. Está aí, está feito.
Se minhas idéias ajudarem outras pessoas, ficarei muito feliz. Se não ajudarem, continuo livre para escrever o quanto mais quiser. Uma mente livre é mais criativa, tem mais espaço para novos conceitos e tem asas para voar por novas rotas. E isso, definitivamente, me torna uma profissional melhor.