Honestamente, esse artigo poderia ter acabado ali no título, que já resume toda a motivação que eu gostaria que você recebesse e carregasse para o resto da vida, se você já não tem essa mentalidade.
Entretanto, como toda ideia pode ficar mais rica através de uma reflexão, deixo aqui a minha. Pode deixar que não vou chover no molhado; tenho seu tempo em alta estima. Se você está esperando encontrar uma lista de clichês e frases motivacionais, espero desapontá-lo.
Não tenho a pretensão de te motivar por um dia, mas de ajudá-lo a encontrar sua própria motivação.
Digo isso porque sei que existem várias ideias maravilhosa na sua cabeça. Você só não começou a colocá-las em prática ainda porque você não tem o tempo disponível. Você também não tem o dinheiro, nem o sossego necessário.
Sem falar que hoje você tá cansado, e que você precisa ler mais uns cinco livros daquela lista, assistir a três vídeos que você deixou salvos e fazer aquele curso caro que você pretende comprar em dois meses antes de estar pronto para esta nova empreitada. Além de que, hoje tá chovendo e isso dá uma preguiça…
Você até gostaria de ter seu canal no Youtube, seu podcast cheio de ouvintes, seus textos publicados, seu romance escrito. Você gostaria de saber desenhar, cozinhar, lutar, falar em público, programar, escrever.
Você gostaria de perder peso, ser referência na sua área, ensinar. Você gostaria de entrar em contato com um cliente que vai adorar o seu trabalho e vai te pagar muito bem por ele. Mas você não faz nada disso, porque você ainda não está pronto.
Você acha que daqui a uns 5 meses, ou um ano, você vai estar. Não vai.
Esta é só uma lista de anseios generalizados, e eu tenho boas chances de ter escolhido opções com as quais você se identifica. Não estou te vigiando. Todos desejamos e arrumamos desculpas para não começarmos hoje.
O que quero explorar aqui não é o comportamento, mas a causa. Você já deve saber que todas estas justificativas acima, assim como as que você usou hoje e eu não escrevi, são mentiras que usamos para não machucar nosso ego. Puras e simples auto-ilusões.
Não é por causa de dinheiro, nem por tempo, nem por filhos, nem por patrão. É por medo.
Nós morremos de medo de falhar. Morremos de medo de passar vergonha, e abominamos, por natureza, estarmos errados.
Mas, por que?
Sendo direto: por acharmos que todos estão notando o que fazemos e julgando nossas ações e pensamentos.
Agora, se você acha que por ter gaguejado e tremido ao falar à frente de 50 pessoas, todas elas vão lembrar de você antes de dormir e no dia seguinte contarão para os colegas — aos risos — sobre sua vergonhosa apresentação, pode ser que você esteja se amando um pouco demais.
Por sermos o centro do nosso universo, temos dificuldade em entender que os outros são o centro dos próprios universos. O mundo gira em torno deles, e eles também acham que você está notando e julgando tudo o que fazem, enquanto você só está preocupado com o que vai comer mais tarde.
Se esse cenário parece meio óbvio e até cômico, por que você ainda tem medo de começar hoje?
Ah sim, porque você acha que daqui a um ano vai estar mais preparado do que está atualmente. Mas você não acha que vai estar mais preparado no próximo ano se começar hoje?
É a famosa ideia: você não pode começar ontem, mas daqui um ano você vai desejar ter começado hoje. Ou, parafraseando J.R.R. Tolkien:
“É o trabalho que nunca se começa que mais tempo leva pra terminar.”
Todos nós temos ego. Isso não é ruim. É, muitas vezes, o que nos mantêm vivos e sonhadores. Mas é, também, o responsável por tantos dramas, vitimizações e racionalizações que nos atrapalham diariamente.
Todos damos sentido à vida através das narrativas que contamos a nós mesmos. Quando eu digo “nós”, não me refiro à parte mais racional do nosso cérebro. Me refiro ao ego. Ele que abre o livrinho, senta na poltrona, nos coloca no colo e conta as mais maravilhosas e trágicas histórias da nossa própria vida.
Não vou me aprofundar neste tópico, mas tenha em mente que é tarefa do ego evitar que nós (e ele, consequentemente), soframos. Por isso, ele dá as melhores justificativas para não arriscarmos nada que possa dar errado, e com isso a gente não cresce.
Não pense você que medo se resume a batimentos cardíacos acelerados, pernas bambas, mãos trêmulas — quase uma paixão. O medo pode ser sorrateiro e chegar através de auto-justificações engenhosas.
A procrastinação é uma das faces do medo. Por ser a mais fácil de aceitarmos, é a mais comum. Você não tem coragem de fazer hoje, mas não diz que não vai fazer. Diz que vai fazer amanhã. E segue empurrando para o dia seguinte até que seja inevitável.
Como podemos, então, começar hoje?
Podemos começar hoje se entendermos que, não importa quando começarmos, iremos falhar — e isso é ótimo. Coloque na sua cabeça que você tem que ser muito ruim antes de ser muito bom. Não há atalho.
Vamos para uma rápida analogia:
Imagine um bebê (muito inteligente), que ainda não sabe andar, em três situações. Na primeira ele se recusa a tentar, porque tem medo de cair. Na segunda ele tenta, mas na primeira queda resolve nunca mais tentar, preferindo ficar deitado. Na terceira ele tenta, cai e levanta centenas de vezes.
Qual é a única opção que o levará ao aprendizado? Agora, só pra exagerar um pouco, imagine um bebê que já nasceu sabendo andar.
É essa simetria lógica que precisamos aplicar a tudo o que nos dispomos a fazer ao longo da vida. É igualmente absurdo você achar que vai criar um canal, fazer um podcast, negociar com um cliente ou falar em público pela primeira vez com a naturalidade de quem faz isso há anos e aprendeu a duras penas.
Retire o peso de ter que ter tudo ajeitado no primeiro dia, da câmera à eloquência. Você vai começar sendo bem ruim, ou, na melhor das hipóteses, mediano. Seja hoje ou em um ano. Como brinca o Cortella:
“Gente não nasce pronta e vai se gastando. Gente nasce não-pronta e vai se fazendo”.
Agora vou te contar o segredo.
Sabe as pessoas nas quais você se inspira? Elas também não descobriram como mandar o medo embora.
O medo nunca vai embora, a não ser para quem não sai da zona de conforto. Estas acabam não realizando nada muito grandioso, infelizmente. O segredo é agir na face do medo. É pegar o microfone tremendo e com boca seca, mas pegar. É mandar um e-mail para um potencial cliente enquanto morde os lábios de ansiedade, mas mandar.
O segredo é se colocar fora da zona de conforto, porque você sabe que num primeiro momento vai ser estranho — para não dizer horrível — mas é ali que você vai aprender, amadurecer e achar seu conforto novamente. Até partir para a próxima.
Outro ponto que julgo importante ressaltar é essa ideia moderna de que você pode substituir uma experiência por pilhas de informação. Isto é, ao invés de obter apenas o mínimo necessário para começar e, enquanto faz, ir melhorando e expandindo o conhecimento, você procrastina consumindo tudo a respeito daquela área.
Você quer aprender a nadar, mas ao invés de arrumar uma piscina rasa e começar a dar braçada, você senta na beira da piscina com sete livros, da história da natação ao livro de ouro das posições aquáticas. Você vê vídeo do Michael Phelps contando de sua trajetória, vê unboxing de óculos, maiô e snorkel, e por aí vai.
A única coisa que você não faz é entrar na água. Você pensa que ela pode estar muito gelada, que você pode morrer por conta de uma cãibra, que o cloro vai estragar seu cabelo e que semana que vem você vai entrar.
Isso é procrastinação. Isso é medo.
“Uma coisa é estudar a guerra, outra é viver a vida do guerreiro.”
Faça apesar do medo. Não existe dia ideal, e quanto antes você colocar a mão na massa, melhor. Não fique com medo do que vão achar. Provavelmente não vão achar nada. E você deve encontrar pessoas que apoiam seus sonhos e projetos. Aproveite o amadorismo. Enquanto ninguém te conhece, erre o quanto precisar. Quando estiver muito bom no que faz, continue errando. Assim surgem as grandes descobertas.
Aplique essa mentalidade para o que quer que você esteja com medo de fazer como freelancer. Seja dominar um novo software, organizar sua parte administrativa, prospectar, colocar seu trabalho no ar, pedir ajuda, subir o seu valor, deixar de fazer negócio com clientes ruins, etc.
Ao terminar esse texto, você tem dois caminhos e uma escolha:
Antes de finalizar, uma breve história que retornou à minha memória.
Conta-se que numa determinada faculdade, no instituto de artes, um professor dividiu a turma em duas e passou a seguinte tarefa: metade da turma deveria trabalhar no melhor vaso que conseguissem produzir e entregar no último dia do semestre. A outra metade estaria livre para fazer o vaso da qualidade que desejassem, mas deveriam entregar pelo menos um ao término de cada mês.
Chegado o último dia do semestre, todos entregaram seus vasos. Qual grupo você acha que entregou o melhor?
Exato, o grupo que produziu todo mês. Eles foram forçados a produzir durante todos os meses, e, sem o peso de extraírem o melhor resultado, puderam aprender e afiar toda a técnica, corrigindo os erros e melhorando a cada vaso. Os outros? Passaram meses idealizando o vaso mais bonito, estudando as referências, procrastinando sempre que possível. “Feito é melhor do que perfeito”, não é?
Eu enrolei mais de uma semana para começar a escrever esse texto. Isso porque, mesmo pensando sobre o assunto, tentei me convencer de que, se esperasse mais, poderia escrever melhor e fazer mais jus às ideias que pairavam na minha mente.
Sentei pra escrever hoje porque precisava pôr fim a essa hipocrisia. Não vou dizer que saiu como eu esperava, o que não quer dizer pior. Mas lá no fundo, sei que se eu tivesse esperado mais um pouco, não haveria texto algum.
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