Como escolher o sócio ideal para o seu negócio

Como escolher o sócio ideal para o seu negócio

"Deve ser alguém em quem você possa confiar". Sim, mas isso é apenas o básico. Vai muito mais além. Vem saber mais!
  Por Henrique Pochmann
Sócios / Shutterstock

O assunto “sociedade” tem ganho minha atenção ultimamente. Tenho visto muitos amigos e colegas de profissão batendo cabeça em suas parcerias.

Infelizmente, é assim mesmo. Sociedade não é algo fácil.

Na maioria dos casos, você se une a alguém por necessidade e não por pura e simples vontade. A sobrevivência do seu negócio grita e você se vê na obrigação de tomar uma atitude.

Já falhei miseravelmente em algumas sociedades. Em todas as esferas. Desde negócio sério, com contas a pagar, até projetos menores, como bandas de garagem, por exemplo.

Uma sociedade de sucesso não se encontra em qualquer esquina. Isso é fato.

Talvez essa trajetória de sociedades mal-sucedidas tenha me trazido à vida de profissional independente. Será? Não sei ao certo.

O fato é que aprendi muito com essas experiências e quero dividir com você algumas dicas. Assim posso te mostrar alguns atalhos para que você não bata de cara em uma sociedade sem saída.

Vamos lá!

Tópicos

Por que você precisa de um sócio?

Opiniões diferentes / Shutterstock

Antes de tomar qualquer decisão, acho indispensável que você dedique um tempo para refletir.

Você realmente precisa de um sócio?

O motivo precisa estar claro. Deve ser algo racional e concreto. E não meramente emocional.

Pode haver outros motivos que fogem ao meu radar agora, mas arrisco dizer que as três principais razões para alguém buscar uma sociedade são:

  • Dinheiro;
  • Mão de obra;
  • Mentoria.

Tenha em mente que sociedade é algo (praticamente) permanente. Não é muito inteligente queimar essa carta com um problema que pode ser temporário.

Escolher o sócio errado dá muita dor de cabeça. Remover um sócio de um negócio pode ser uma experiência incrivelmente dolorosa para você e sua empresa.

Vale a pena refletir muito antes de tomar qualquer decisão.

Vamos entrar um pouco mais no detalhe das razões que mencionei acima.

Dinheiro

O dinheiro de um sócio parece menos carregado de responsabilidades do que o dinheiro de um banco, não é verdade?

Porém, um sócio perdendo as esperanças de reaver a sua grana pode se sentir no direito de tomar as rédeas do negócio e aplicar o seu próprio ritmo de jogo. Já pensou nisso?

Outra. Se você utilizar o dinheiro de um sócio de forma inteligente, no futuro não vai mais precisar de grana. O business vai andar com as próprias pernas. E seu sócio vai continuar no negócio, mesmo sem função.

Sugiro que você, antes de colocar um sócio na jogada, avalie a possibilidade de levantar a grana de outra forma. Por exemplo: empréstimo com banco ou familiar, venda de algum bem valioso, etc.

Mão de obra

Quem tem dinheiro consegue contratar (na maioria dos casos) mão de obra qualificada. Como sou um sujeito meio individualista, considero essa uma saída mais inteligente do que dividir o quadro societário da empresa.

Não tem dinheiro na jogada? Neste caso, recomendo que você avalie se a competência que você procura está ligada ao andamento diário do seu negócio ou se é apenas necessária em situações especiais.

Imagine a sociedade entre um designer e um programador, por exemplo. Digamos que eles montaram a empresa para principalmente construir sites. Este é o tipo de demanda que exige o trabalho dos dois. Mas eventualmente surgem demandas de criação de marca. Neste caso, o designer trabalha sozinho, o programador não se envolve. É justo os dois ganharem o mesmo no final do mês? Não sei, depende da mentalidade de cada um. Sociedade tem dessas coisas.

Por essas e por outras, em casos pontuais, antes de se falar em sociedade, vale a pena testar um contrato de exclusividade com algum terceiro. Você concentra todas as demandas no parceiro em troca de atenção e condições especiais. Se você tem um fluxo grande de demandas, será interessante pra ele.

Criar uma sociedade exclusiva pra atender esses serviços específicos também é uma saída. Assim você não conecta seu sócio a espinha dorsal do seu negócio, ele só participa das decisões relacionadas a esse novo braço do qual faz parte.

Mentoria

É incrivelmente reconfortante ter alguém por perto que saiba o que está fazendo e é capaz de indicar os melhores caminhos. É um alívio, principalmente pra quem tá dando os primeiros passos no empreendedorismo.

Porém, colocar um mentor na história, tem um custo muito alto. Considero um desperdício lançar mão de uma solução desse porte para dúvidas que podem ser meramente ocasionais.

Um mentor não é a única fonte de informação disponível. É possível que você encontre as respostas que precisa em um curso, em um evento, em um livro, em um conteúdo online, em uma conversa informal de networking, em um grupo de mastermind, enfim… As respostas estão por toda a parte.

A ideia desse tópico foi chamar a sua atenção pra que você faça uma leitura correta da situação. Nem sempre a aquisição de um sócio é a solução mais esperta.

Lembrando que tocar uma sociedade é diferente de tocar um negócio individual, você perde autonomia.

Eventualmente você vai ter que ceder e fazer coisas que não acredita porque seu sócio acredita e vice-versa. É bom ter isso em mente.

Perfil do sócio ideal

Que tal uma parceria tipo Joey e Chandler? Amigos, amigos, negócios à parte.

Imagino que o tópico anterior tenha sido útil para amadurecer a questão. Se você refletiu e tomou a decisão de formar uma sociedade, vamos adiante.

Neste tópico acho que vale a pena analisar os seguintes pontos:

  • Competência vem antes de amizade ou parentesco;
  • Distrações;
  • Experiência comprovada;
  • Habilidade complementar;
  • Networking;
  • Personalidade;
  • Por que você?

Falando um pouco mais sobre cada um deles…

Competência vem antes de amizade ou parentesco

De cara posso te dizer que não se escolhe sócio por amizade ou parentesco. A pessoa precisa ser competente. Você precisa confiar na pessoa, sim. Mas não adianta você confiar em alguém que não tem competência para tocar o negócio com você.

Uma relação que foi forjada numa amizade/parentesco talvez não se sustente no âmbito dos negócios porque as pessoas tendem a não injetar o mesmo profissionalismo que empregariam se estivessem trabalhando para uma pessoa com menos intimidade.

Sem contar que uma sociedade mal-formada pode arruinar uma amizade e gerar várias saias justas nas festas de fim de ano da família.

Distrações

Analise o momento em que a pessoa está vivendo: já tem outra empresa? A faculdade toma muito tempo? Teve filhos recentemente? Tem um grande compromisso financeiro (casa, carro, moto, faculdade,…)? Tudo isso vale a pena ser levado em consideração.

Pode parecer bobagem, mas assuntos desse tipo consomem muita energia e atenção. Será que essa pessoa terá foco na empresa com uma grande distração em volta?

Muitas vezes a pessoa quer focar na empresa, está com sangue no olho. Mas a situação não permite. Em muitos casos isso nem mesmo é culpa da pessoa.

Até uma empresa atingir a maturidade, ela precisa do foco total dos seus sócios. A empresa pode demorar um tempo considerável para gerar lucro que não precise ser imediatamente reinvestido.

Esse período inicial já é bastante atribulado. Um sócio distraído, ou preocupado em ganhar dinheiro rápido, pode se tornar uma dor de cabeça desnecessária.

Experiência comprovada

Formação e currículo não querem dizer nada. Aposte em uma pessoa que tenha como comprovar o que ela é capaz de fazer pelo negócio.

Não se deixe levar pelo que as pessoas dizem, veja tudo com seus próprios olhos. Isso pode te livrar de situações desastrosas mais pra frente, vai por mim.

Habilidade complementar

Se unir a alguém que faz a mesma coisa que você pode ser interessante para dar vazão a demanda crescente. Mas pode se tornar um pepino se um dos sócios tentar impôr seu estilo de trabalho.

Acho mais válido buscar uma pessoa que tenha habilidades que você não tem. Ou que seja boa em coisas que você não é.

Assim, além da empresa estar bem coberta em todos os setores, não sobra muito espaço pra competição e disputas de ego desnecessárias

Networking

Essa pessoa tem boas conexões profissionais? No mundo dos negócios, cada movimento pode trazer novas oportunidades. É fundamental estar com o radar sempre ligado.

Seu potencial sócio passa a ser mais valioso se ele puder te apresentar pessoas interessantes no futuro.

Fique ligado ao inverso também. Se associar a uma pessoa envolvida com pessoas de má reputação pode acabar manchando a imagem da sua empresa.

Personalidade

Todo profissional precisa ter sangue no olho, força de vontade, proatividade, etc. Isso é o básico! Um potencial sócio sem esse perfil é melhor que nem se apresente.

Além dessas características fundamentais, tente identificar se o comportamento da pessoa harmoniza com o perfil de sócio que você precisa. Um vendedor tímido provavelmente não conseguirá fazer boas vendas, por exemplo.

Em uma boa conversa é possível sentir se a pessoa é fácil de lidar, se é expansiva, se é contida, se é insegura, enfim… Atente-se a isso para não ter que romper a sociedade mais para frente.

Por que você?

Ok, estamos aqui tentando identificar uma pessoa ideal para trabalhar com você. Mas vamos mudar um pouco a perspectiva.

O que faz de você uma boa opção para essa sociedade?

É interessante que você tenha ciência do que pode oferecer para o sucesso dessa parceria.

Fazer uma auto-analise é sempre relevante para o nosso crescimento pessoal e profissional. Além de ser muito útil para tomar consciência do quanto você vale para o seu sócio.

Quem precisa mais de quem nessa história? O ideal é que essa balança esteja sempre equilibrada.

Alinhamento de expectativas

Profissionais conversando / Shutterstock

É fundamental que as partes estejam olhando na mesma direção. É preciso conversar sobre:

  • onde querem chegar (objetivo);
  • como querem chegar (o caminho/ as estratégias);
  • e quando querem chegar (o prazo para que isso aconteça);

A falta de alinhamento de expectativas pode causar o rompimento precoce de uma sociedade que tinha tudo para dar certo.

Conversar honestamente sobre esses três tópicos é extremamente importante. Cada um precisa expor a ideia de empresa que tem na cabeça. Assim ocorre um diálogo e então as expectativas se equalizam.

Identificação de papéis

Best job ever / Shutterstock

Se todo mundo cuida de tudo, ninguém cuida de nada.

O job description de cada sócio deve estar bem claro para que ninguém se atropele no dia a dia ou, ainda, tire o corpo fora na hora de assumir as responsabilidades.

Se você está formando uma sociedade onde os profissionais tem papéis complementares, naturalmente vai haver uma divisão de tarefas. Mesmo assim, não custa formalizar as responsabilidades de cada um.

Já se você está formando uma sociedade onde os sócios têm a mesma habilidade, cuidado redobrado!

Imagine uma empresa formada por uma dupla e os dois sócios são do operacional. Quem vai cuidar do administrativo? Alguém precisa assumir isso.

É importante que a divisão de responsabilidades esteja clara para ambos.

Teste antes de formalizar

Experiência / Shutterstock

Beleza, você aparentemente encontrou a pessoa ideal para formar uma sociedade. Mas antes de sair assinando papéis e formalizando tudo, recomendo que você faça um teste drive.

Que tal sugerir ao seu potencial sócio seis meses, ou mesmo um ano, de sociedade informal?

Os dois respondem como sócios, têm os seus poderes, têm as suas remunerações, porém – AINDA – não há nenhum documento formal assinado.

Digamos que seja um “período de carência” para ver se a sociedade se consolida. Passado o tempo acordado, vocês assinam os papeis e formalizam efetivamente a sociedade.

Não é feio. É honesto. Perfeitamente viável. E pode poupar constrangimentos futuros.

Remuneração

Dinheiro na jarra / Shutterstock

Qual deve ser a remuneração de um sócio? É uma questão complexa. Não existe uma resposta padrão para todos os modelos e situações de sociedade. É preciso analisar cada caso individualmente.

É importante dizer também que os lucros não precisam necessariamente ser divididos de acordo com a participação de cada sócio na empresa.

Um sócio pode ser dono de 85% e outro de apenas 15% da empresa. E, ainda assim, os dois dividirem os lucros ao meio. Metade para cada um.

Antes de definir a remuneração de um novo sócio, vale a pena refletir sobre quanto o trabalho dele vai acrescentar ao faturamento. E também quanto ele vai tirar proveito do que já havia sido construído antes dele chegar.

Particularmente gosto de pensar que se em uma sociedade todos se dedicam e não medem esforços para o negócio acontecer, os lucros devem ser divididos em partes iguais. Mas essa é apenas a minha modesta opinião.

Conclusão

Celebrando / Shutterstock

Quem toca uma empresa sozinho e frequentemente se vê sobrecarregado, vê a chegada de um sócio como a salvação da lavoura. Em alguns casos pode até ser. Mas é importante ter em mente todos os pormenores que a absorção de um sócio pode ter.

Quando se trata de trabalho sério e longevidade nos negócios, o lance tem que ser na ponta do lápis, preto no branco.

Empreender é abrir mão do presente e acreditar que se pode fazer um futuro melhor. Isso não é para todo mundo, é uma questão de perfil.

Há vários exemplos por aí de pessoas que foram parar no quadro societário de uma empresa por mera obra do acaso. Têm uma empresa na mão, mas ainda pensam como funcionário. No fundo essas pessoas só queriam mudar de emprego.

É esse perfil de sócio que você quer? Em alguns casos esse perfil pode até vir a calhar. Mas para uma empresa que está começando, o ideal é ter pessoas com sangue no olho e com muita vontade de crescer.

Vale a pena deixar claro que não há regras inquestionáveis. Cada situação é uma situação única e deve ser analisada como tal. O segredo (que não é nenhum segredo) é botar a caixola para funcionar e explorar o potencial da situação conforme as cartas na mesa.

Enfim, espero que este artigo não tenha sido muito negativo. Espero que tenha colaborado para abrir seus horizontes a respeito do que é de fato formar uma sociedade. E te ajude a escolher a pessoa ideal para levar sua empresa mais longe junto com você.

Você já teve alguma experiência com sociedade, como foi?

Conta pra mim nos comentários o que você pensa sobre sociedade. Vamos levar o assunto adiante! Quero muito saber a sua opinião sobre tudo isso.

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 Publicado em 04/12/2017 Atualizado em 04/10/2018
Henrique Pochmann Criou o Aparelho Elétrico em 2014. Produz e apresenta o podcast do site. Trabalha com marketing digital desde 2002. Quer mais tempo para colocar outros projetos em prática, quer viajar mais, comprar uma bicicleta e ter uma bio mais legal.
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